20 horas do dia 29 de abril de 2018 — a semana foi uma batalha intensa
Cá estou novamente, com um resumo dos bastidores da vida de um autor independente.
Vou apenas jogar um pouco de conversa fora. Preciso disso, para colocar os eventos que se passaram nesta louca semana em ordem na minha cabeça.
Infelizmente, fui assombrado pelo inimigo secreto que se esconde no governo.
Sim, um inimigo secreto. E no governo.
Quando ele põe as garras para fora, vira de cabeça para baixo a vida de agentes duplos como eu.
São tantas as missões das quais precisamos dar conta em nosso trabalho principal — aquele que fazemos como infiltrados — que sobra pouco ou quase nenhum tempo para os planos maiores; os mais ambiciosos.
Passei a semana às voltas com um novo monstrinho que o governo está liberando em nosso país. Foi uma luta difícil, que aliás, não terminou. Mas posso dizer que sai vitorioso nessa primeira etapa. Ainda que não totalmente intocado, pois como disse anteriormente, a luta me custou o meu bem mais precioso: tempo.
É sempre assim quando você é um profissional de T.I. — por favor, sem piadinhas infames sobre isso — que precisa manter o sistema funcionando. O Governo resolve que precisa criar mais uma boca para sugar a grana do cidadão e das empresas. É aí que entramos nós, do T.I. Somos nós que temos que fazer essa boca funcionar no sistema — quer ela seja boa ou má, ela tem de funcionar. Senão o governo vem e arranca um belo bocado das empresas na forma de multas. E aí já viu… Nem preciso descrever o cenário caótico em que isso vai parar…
Mas venci essa luta a tempo de aproveitar; da melhor forma possível, o pouco tempo que me restou.
E me lancei, na calada da noite — e na calada do dia do fim de semana — nas batalhas mais importantes para a minha “Outra Profissão”. Aquela que dá um orgulho secreto. Aquela que você executa quando ninguém está olhando.
E posso dizer que, com certeza, mesmo com menos tempo, também saí vitorioso nesse ring. Venci o maior e mais temível vilão dos autores independentes: o Escroto Procrastinação.
E após esta semana tão intensa, nos meus dois turnos, nos meus dois mundos, nas minhas duas áreas de atuação, precisei parar um pouco e me recuperar.
Por isso fugi para um refúgio afasto de todos — de quase todos. Um bemmmm distante. E aqui fiquei me recuperando dos ferimentos e me restabelecendo para a próxima semana — assisti uns desenhos com a minha filha e comecei a ensiná-la a jogar Go enquanto eu mesmo lembrava como se joga. Ela — a minha filha — é uma poderosa fonte de poder, que sempre ajuda a recarregar as minhas energias.
E enquanto completo meu ciclo de descanso — um bem curtinho, de umas poucas horas — aproveito para repassar o saldo de ganhos e perdas da semana enquanto escrevo para este “Diário de Bastidor”, se é que se pode chamá-lo assim.
Vejamos, o que consegui fazer esta semana na produção do meu próximo livro…
Talvez soe estranho para quem costuma ler apenas por diversão. Mas quem escreve não lê apenas com esta intenção em mente. É claro, também é divertido ler quando se é escritor. Mas há algo mais. É um treino. É um estudo. É uma forma de auto aperfeiçoamento. Neste sentido; para o escritor, ler é como um dos exercícios de aprendizado para quem joga Go — caso não conheçam este milenar jogo de tabuleiro, peço desculpas pela referência, mas o que posso fazer? Não há como não mencioná-la aqui no dia de hoje — e este exercício funciona da seguinte forma:
Todos os jogos oficiais de Go costumam ser anotados em um registro. Este registro indica qual jogador jogou em qual posição do tabuleiro em seu turno. É desta forma que partidas de grandes mestres podem ser recriadas por um jogador iniciante — e até mesmo por um profissional. Recriando a partida de um mestre, você acaba aprendendo um pouco de sua arte. Aprende, por exemplo, porque em uma dada situação ele jogou em uma posição no tabuleiro. Aprende porque ele sacrificou uma peça. Porque atacou em um dado momento e defendeu em outro.
Recriar uma partida de Go é, portanto, uma forma de aprendizado.
Esta é uma excelente forma de se estudar Go. Também é um excelente forma de se estudar Xadrez. E também é uma excelente forma de se estudar livros e a forma de escreve-los.
Por tanto, quando lemos com a devida atenção, estamos recriando o ato de escrever o livro. E com isso podemos aprender o que o escritor quis fazer e porque.
Sendo assim, ler toda semana, faz parte do meu processo de “Criar” os meus próprios livros. Se eu não leio nenhum dia na semana, considero que a minha semana de trabalho não foi completa e por isso, fico muito, mas muito frustrado.
Por sorte — na verdade por causa do meu suor mesmo — esta semana não passou em branco no quesito leitura.
Minha jornada pela Ilha do Dragão chegou ao fim — ao menos por hora. Aguardo ansiosamente a editora Generale dar continuidade aos livros de Elric de Melniboné. Mas estou receoso, pois até agora não tive nenhum indicio de que isso vá ocorrer tão logo. Espero estar enganado.
Estou há um tempo tentando arranjar um tempo para mandar um e-mail para a editora, para elogiar o trabalho, para incentivá-los e pedir encarecidamente que continuem apostando no nosso melniboneano albino preferido.
Claro que eu fazer isso não muda em nada o fato de a editora resolver publicar ou não. Mas é importante que os leitores se manisfestem positivamente sobre uma obra, para ajudar a dar a perspectiva de que o trabalho vale a pena. Além disso é uma forma de eu descobrir — ou não — se o livro 3 está a caminho das terras brasileiras.
Elric, espero que possamos continuar com sua triste jornada em breve. Até lá, precisarei seguir por outra vereda do caminho da Espada e Feitiçaria.
E tendo terminado esta incrível leitura eu escolhi — em tempo — o próximo livro de estudo.
É um livro que há muitos e muitos anos já havia sido recomendado a mim por um grande amigo — também escritor e, diga-se de passagem, um bruxo; apesar de ele não gostar de ser chamado assim.
Falo de “As Aventuras do Caça Feitiço”.
Eis que comecei a “arranhar” as primeiras páginas do livro 1 — claro, tinha que ser uma saga, hahaha.
Ainda não tenho muito o que dizer sobre o livro — nem é essa a minha proposta com esses textos. Mas devo dizer que o pouco que li me encheu de esperanças.
O texto é fluido e agradável. Mas eu já esperava que esta fosse ser uma boa leitura. Talvez eu ainda venha a me surpreender mais…
A única coisa que me pegou de surpresa é que o livro — ao menos o primeiro — é narrado em primeira pessoa. Não que isso seja um problema; mas eu estava procurando estudar um pouco mais da narrativa em terceira pessoa neste gênero. Mas o que está decidido, está decidido. E não vou voltar atrás por tão pouco.
Enfim, isso é o de menos e espero aprender algum feitiço novo logo para aproveitar no meu dia-a-dia. Hahaha.
Mas não foi só com a leitura que eu andei progredindo…
A revisão do segundo volume de Rumores também avançou.
Ao lado você pode conferir a imagem que eu selecionei no Pinterest para me inspirar no processo — escolho para cada capítulo uma nova imagem que me ajuda a me sintonizar com o clima da obra.
O capítulo que revisei essa semana foi o de numero dez.
Claro, eu gostaria de ter terminado a revisão de muito mais capítulos esta semana. Mas com tudo o que me aconteceu — não serei repetitivo — é na verdade um grande feito eu ter revisado ao menos um capítulo inteiro.
Então, neste sentido, a semana foi uma grande vitória.
Além do mais, como fui influenciado pelo Death Metal que me manteve acordado nas horas sombrias de labuta contra o monstro libertado pelo governo, acabei me inspirando a trabalhar em mais uma canção para este livro.
E eis que criei um pequeno monstrinho de 851 palavras.
Agora procuro uma forma de colocar esta monstruosidade no meio do texto sem atrapalhar a delicada dinâmica que criei para esta história.
Irei pensar em algo — eu sempre penso.
No mais, trabalhei um pouco mais também em um símbolo — o que estou usando é provisório.
Não que um símbolo seja essencial. De fato não é.
Mas ter um símbolo ajuda a estabelecer uma marca. Por isso irei trabalhar um pouco mais nisso — claro, sem comprometer a minha principal tarefa, que é fazer a história andar para frente.
Abaixo deixarei, em breve, alguns esboços de ideias para o símbolo. E também a canção que mencionei anteriormente (peço desculpas por não deixar o post pronto de uma vez, mas já é quase meia noite e em breve não será mais dia 29).
Até a próxima…
Deixe-me lhes contar uma velha história
Desde que nos lembramos,
na longitude do tempo,
sabemos que nas florestas do mundo todo
ecoa um triste lamento.
É lá que habita o terrível Tigre.
Sim, O Tigre!
O Selvagem infame!
E de suas entranhas ouvimos
os sórdidos acordes da fome.
Rastreando na selva,
espreitando na treva,
em busca de Carne e sangue
ele vaga sob o manto da noite.
Recebendo a vida
em troca de ter dado a morte.
Tem o espírito de uma verdadeira fera,
criatura da noite,
parida das entranhas escuras
dos abismos insondáveis da terra.
Ora, meus amigos!
A morte sente fome
e este ciclo tem um nome;
é a dança visceral,
a valsa ancestral
da inofensiva ovelha e do Tigre letal.
Mas há outros personagens
nesta nossa história de brutalidade e dor.
Há muito sabemos
que às margens dos rios e mares do mundo
há muito habita outro predador.
Falo do famigerado pescador,
um caçador também letal,
que vive de Peixe e de sal.
Os frutos do mar
é o que desde sempre ele busca,
guiando suas embarcações,
espreitando atrás de seus arpões,
persegue os cardumes em fuga.
Navega ao sabor do vento,
ao sabor da sorte.
Recebendo a vida,
Em troca de ter dado a morte.
Tem o espírito daqueles feitos para matar,
nascido das entranhas escuras
dos mais profundos abismos do mar.
Esta é mais uma entre tantas
canções de brutalidade e dor.
Esta é mais uma
das canções de caça e de caçador.
Ora, meus amigos!
A morte sente fome
e este ciclo tem um nome.
Canção dos que sentem do sangue o sabor.
É a valsa visceral.
É a valsa do arpão letal.
É a valsa do peixe e do pescador.
Há muito aprendemos.
Há muito sabemos.
Basta nos sentarmos
para rememorar
Este velho conhecimento.
Quem criou o Gado,
quem encheu os mares de salmões.
Deu presas ao tigre
e também ensinou a fabricar arpões.
Quem contaminou o tigre com a fome,
criou sua cura com a carne do mais fraco
e temperou este elixir com o sangue do gado.
Quem criou o pescador
encheu-o de uma insaciável dor;
um vazio que nunca abandona o estomago do caçador.
A dor dos que vivem,
a dor dos que dão a morte para ganhar a vida,
a dor daqueles que tem no sangue dos outros a sua vital bebida.
Um vazio que nunca se contenta
com as vidas que toma.
Um vazio que só se aplaca
quando a chama da sua própria vida enfim se apaga.
Oh! Terríveis Criadores,
que navegaram o mar do caos,
atravessando colossais tormentas,
até atracarem em uma Angra
além da eterna noite invernal.
Vieram para aportarem às margens do vazio.
Vieram do submundo
subindo as correntezas de um infindável rio.
Vieram com estes teus olhares insondáveis,
que nos parecem cheio de um eterno descaso.
Vieram para deixar a sanidade do mundo espalhada em mil pedaços.
Vieram por sobre as ondas titânicas,
transportando uma miríade de loucuras.
E nos revelaram muitas delas,
com suas vozes doces e sardônicas.
Vieram para colapsar as praias do vazio,
virar o mundo do avesso,
e torná-lo
um mundo cheio de entes travessos.
Oh! Terríveis Criadores,
que a tudo temperam
com este triste paradoxo.
Oh! Terríveis Criadores,
que em sua sanha enlouquecida
escolheram este mundo
para o encherem com o seu caminho ortodoxo.
Quão terrível é a verdade que vislumbraram
nas forjas do infinito.
Quando encheram este mundo
com esta sua lógica sem sentido.
Uma piada,
imortal e insensível,
fadada a ecoar por todo o sempre…
Arrancando gargalhadas frias
com um senso de humor a nós incompreensível.
Uma piada que ecoa.
Uma piada que vibra.
Uma piada que corta…
As teias,
invisíveis e frágeis,
da razão…
Uma piada que soa,
terrível e truculenta,
como um hino à eterna destruição.
Uma piada que soa,
arrancando gargalhadas turbulentas
que estremecem o mundo,
revirando suas entranhas e deixando-o em tumulto.
Uma piada que ecoa,
com um timbre único,
um timbre original…
Arrancando gargalhadas;
de criaturas tão soberbas,
de criaturas tão superiores,
que estão acima da nossa compreensão de bem e de mau.
Mas sigamos todos em frente,
caçadores e Presas.
Pois somos Frutos da terra e do mar,
somos seus filhos,
e ao mesmo tempo somos os seus pais.
Pois se das profundezas escuras nascemos,
se dela nos alimentamos,
se dela somos uma extensão transitória…
A ela,
no fim,
retornaremos,
deixando para trás
somente história.
Somos os filhos dos que já morreram.
Seremos os pais de quem consumirá nossa carne e sangue.
Nascemos de uma Mãe,
de quem seremos a presa,
a quem serviremos de alimento,
a quem nos fundiremos
para nos tornarmos parte deste grande pesadelo.
Seremos os pais
daqueles que nascerão
de nosso próprio sangue.
Seremos o caçador
que reclamará estes filhos
em uma valsa cíclica
de vida
e de morte.
A valsa de quem foi para permitir quem é.
A valsa de quem é às custas de quem deixou de ser.
A valsa de quem deixará de ser, para permitir quem será.
A valsa
embalada por notas de prazer e de dor.
Esta ancestral valsa…
do Tigre e do Pescador.