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Uma injustiça com Carmilla
A injustiça é uma das engrenagens do mundo. Por tanto, para mudar o mundo, temos que quebrar suas engrenagens e força-lo a funcionar de um modo diferente. Quebremos mais uma injustiça; a que Drácula cometeu e ainda comete com Carmilla. Consideramos Drácula o precursor dos vampiros modernos. Mas a grande verdade é que, se há um precursor, não é um “ele” e sim um “ela”. Falo de Carmilla: a vampira de Karnstein. Estou ansioso por acrescentar este livro à minha lista de leituras concluídas, mas primeiro tenho que terminar de ler o Drácula (uma leitura que apesar de interessante, é um tanto quanto mais morosa do que eu imaginava).
Por incrível que pareça, conheci essa personagem graças a duas produções com origens lá no oriente: o filme Vampire Hunter D: Bloodlust e CastleVania da netflix, eu falo um pouco sobre isso em outro post aqui no blog. Em ambas as produções há uma versão da Carmilla (assim como do próprio Drácula).
Uma das curiosidades a respeito dessa incrível personagem é que ela tem uma relação com o uso de anagramas; um assunto do qual gosto muito:
Todos conhecemos a brincadeira do uso do nome Drácula ao contrário (um anagrama que, neste caso, inverte a ordem de leitura das letras), criando assim o nome Alucard. Acredito que o uso mais famoso desse anagrama e que popularizou essa brincadeira com o anagrama de Drácula é o personagem Alucard do jogo Castlevania: Symphony of the Night, conforme você pode conferir na Wikipédia. Pois é, mas acontece que antes de Drácula, Carmilla já brincava com essa ideia. No conto há um túmulo importante (um pequeno spoiler) pertencente a uma mulher chamada Condessa Mircalla Karnstein; mas acontece que Mircalla Karnstein é um anagrama para Carmilla Karnstein.No livro de Sheridan Le Fanu ainda lemos o seguinte a esse respeito:
"Em certas situações, o vampiro parece estar sujeito a condições especiais. No caso particular que aqui relatei, Mircalla parecia estar presa a um nome que, não sendo o verdadeiro, deveria ao menos reproduzi-lo num anagrama, sem omissão ou adição de uma única letra. Era o caso de Carmilla e, da mesma forma, Millarca." — Sheridan Le Fanu
Quem me inspirou de fato a criar vários anagramas do meu próprio nome foi Lord Voldemort e não Drácula ou Carmilla, mas devo admitir que ambos os vampiros foram uma influência neste sentido (inclusive, gosto de criar anagramas com os nomes de alguns personagens em minhas histórias por causa deles).
Mas voltando a Carmilla, essa obra foi criada por Joseph Sheridan Le Fanu como uma novela de ficção gótica. Apesar de ser um conto curto, ele foi publicado em capítulos na revista Dark Blue entre 1871 e 1872 e incorporada na coleção de Le Fanu In a Glass Darkly, publicada em 1872. In a Glass Darkly consiste em uma série de casos misteriosos estudados supostamente por um especialista alemão em ocultismo, Dr. Martin Hesselius.
Talvez o que me inspirou a voltar a falar de Carmilla (eu já havia feito uma breve descrição desse conto em 2019 em um blog que eu mantinha no Tumblr) foram os morcegos que andei vendo recentemente onde moro. Gosto muito de morcegos e de observa-los durante o crepúsculo e até mesmo após a noite já ter caído. Isso me faz lembrar que Osasco (Oz city para os íntimos) é uma cidade famosa no que se refere à vampiros: falo de Os Sete do André Vianco (escritor Osasquense). Foi por causa do André Vianco que resolvi virar escritor. Então, se hoje me dedico à escrever minhas histórias de maneira séria, é por causa dele. Mas isso é outra história, que deixo para outro momento...
Deixo aqui algumas pequenas passagens desta novela gótica é de uma poesia impressionante, ardente e apaixonantemente sombria:
"Como pode imaginar, minhas governantas exerciam pouco controle sobre mim – uma garota mimada a quem um pai viúvo permitia praticamente todos os caprichos — Sheridan Le Fanu"
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"Eu era uma daquelas crianças que têm a felicidade de ser mantidas na ignorância quanto a histórias de fantasmas, contos de fadas e outros relatos do tipo, que nos levam a cobrir a cabeça quando a porta se abre de repente ou o tremeluzir de uma vela moribunda faz as sombras dançarem pela parede vindo em nossa direção. — Sheridan Le Fanu"
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"Como amaldiçoo o ceticismo de que tanto me orgulhava, meu abjeto sentimento de superioridade, minha cegueira e minha obstinação (...). — Sheridan Le Fanu"
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"Com um olhar de cobiça, ela me puxava para si, e seus lábios cálidos me enchiam a face de beijos, para em seguida sussurrar, quase em pranto: ‘Você é minha, e será sempre minha, você e eu somos uma para sempre. — Sheridan Le Fanu"
🧛 Deixo uma breve sinopse de Carmilla e encerro hoje por aqui. Mas eu volto. 🦇
Sinopse:
“Carmilla” (1872) exerceu papel chave na elaboração de “Drácula” (1897), sendo considerada a obra que forneceu a Bram Stoker a ideia e a inspiração para escrever seu romance. Contribuiu com vários elementos que se tornaram convenções da literatura vampírica e ajudou a cristalizar o caráter erótico associado ao vampiro, tão explorado depois da publicação desta novela. Alicerçada na rica tradição folclórica do leste europeu e nas primeiras produções literárias sobre o tema, “Carmilla” foi uma das novelas góticas mais populares do século XIX e, desde a filmagem, em 1932, de “O vampiro”, de Carl Th. Dreyer, vem sendo objeto frequente de adaptações para o cinema, superada apenas por “Drácula” em número de filmes.
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