Este é mais um capítulo das minhas Crônicas de um Autor Independente!
Este clima sombrio e carregado de névoas disformes é perfeito para o assunto de hoje... Como disseram os anões em uma reunião na casa de um tal senhor Bolseiro: Escuro para negócios escusos!
O assunto em questão é um dos contos de terror que eu escrevi nos últimos anos e que mais me gerou trabalho. Esse conto já ganhou algumas capas novas. Já foi publicado na Amazon, no Clube de Autores e no Wattpad e já gerou alguns textos secundários e até mesmo episódios especiais no meu podcast Caravana Sombria (os dois episódios da série Arquivo Umbra referem-se a eventos ocorridos no entorno ou na própria localidade em que este conto se passa). Falo da Rua dos Anhangás.
Apesar de todo trabalho e do relativo retorno que obtive com esse conto (consegui alguns leituros ao longo dos anos e um depoimento positivo no Skoob) eu ainda não consegui ficar satisfeito com o alcance que essa história teve.
Esse experimento durou alguns meses e eu já falei sobre isso em um post anteriormente.
Eu escolhi o wattpad, pois queria que o acesso ao conto fosse gratuíto e relativamente fácil (as histórias publicadas no wattpad podem ser lidas via app para celular ou em qualquer navegador e dispositivo com acesso à internet).
Chegando perto do final dos testes e tendo percebido que não obtive absolutamente nenhum retorno nesse conto, resolvi usar a tecnologia mais recente e comentada da internet para investigar um pouco os motivos para isso.
Falo do ChatGPT.
E o que eu fiz com o ChatGPT foi bem simples; eu simplesmente expliquei para ele a situação e perguntei a opinião dele sobre o assunto, a fim de obter alguma informação relevante e que me desse uma pista do que mudar nos três itens principais que uma obra precisa ter para chamar a atenção do publico e que não dependem de divulgação: título, capa e sinopse.
Eis a pergunta que eu fiz ao ChatGPT:
Em seguida a I.A. formulou a seguinte resposta:
Olá, este é o Bing. Eu posso tentar te ajudar a analisar a situação do seu conto no Wattpad. 😊
Wattpad é uma plataforma que conecta milhões de leitores e escritores através do poder da história1. É possível publicar e ler histórias de diversos gêneros e categorias, além de interagir com outros usuários através de comentários e mensagens2.
No seu caso, você optou por não divulgar o seu conto em nenhum lugar, nem mesmo no próprio Wattpad. Isso pode ter dificultado muito a visibilidade da sua história, pois há milhares de outras histórias competindo pela atenção dos leitores na plataforma.
Além disso, você escolheu um tema que pode não ser muito popular ou conhecido entre os leitores do Wattpad. Uma releitura do folclore guarani pode ser muito interessante e original, mas talvez não seja o que a maioria dos leitores está procurando ou esperando encontrar.
Outro ponto que pode ter influenciado é a capa, o título e a sinopse do seu conto. Esses são os elementos que chamam a atenção dos leitores em primeiro lugar, e devem ser atrativos e instigantes. A capa que você usou é simples e não revela muito sobre o conteúdo da história. O título é curto e genérico, podendo se confundir com outras histórias de terror ou suspense. A sinopse é breve e não explica qual é a relação entre a rua dos anhangás e o folclore guarani, nem qual é o conflito ou o objetivo dos personagens.
Portanto, eu sugiro que você revise esses aspectos da sua história e tente melhorá-los para despertar mais interesse dos leitores. Você também pode pesquisar quais são as tendências e as preferências do público do Wattpad Brasil4, e adaptar o seu conto para se aproximar mais delas. Por fim, você pode divulgar o seu conto em outras redes sociais, em grupos de leitura ou escrita, ou em comunidades relacionadas ao tema da sua história.
Espero ter te ajudado com essa análise. Se você quiser mais dicas ou sugestões sobre como escrever ou publicar no Wattpad, eu posso te indicar alguns sites ou artigos que podem te orientar melhor.
Após analisar todos os pontos que o ChatGPT listou sobre o assunto, eu pensei por um tempo. Não vou dizer que cheguei a uma conclusão, mas posso dizer que de tudo o que ele citou, os pontos que eu penso serem mais relevantes são o título e a temática. Embora eu também pense que preciso trabalhar novamente na capa e na sinopse.
Apesar dessa infantilização recente do folclore brasileiro, este não deixa a desejar em nada para lendas e histórias folclóricas de outros países (basta que voltemos para as suas raízes ou mesmo para as versões anteriores a Lobato). Eu falo bastante sobre isso no prefácio desse conto (e esse texto também está postado aqui no blog).
Às vezes consumimos histórias estrangeiras que julgamos incríveis sem nem mesmo saber que estas possuem uma base folclórica (estrangeira). É o caso com vários animes japoneses, como XXX Holic, Yu Yu Hakusho e InuYasha. Até mesmo Dragon Ball (um anime bastante popular no Brasil) tem o seu personagem principal inspirado em personagem de uma lenda chinesa, conhecido aqui no ocidente como Rei Macaco.
Há ainda uma porção de livros incríveis e que possuem alguma inspiração em lendas folclóricas. As Aventuras do Caça Feitiços e The Witcher são dois exemplos.
A verdade é que essas obras não são divulgadas aqui no Brasil com os dizeres "baseado no folclore de tal lugar" ou "com forte inspiração folclórica". Talvez não haja uma divulgação ressaltando o aspecto folclórico dessas obras devido ao fato de isso não funcionar muito para o público brasileiro.
Devo dizer que esses meus pensamentos são apenas conjecturas baseadas mais em minha experiência sobre o tema do que em dados e, por isso, tudo o que eu estou falando aqui é "achismo" e não ciência. Dito isso, estou pautando minha análie em percepções pessoais e experiência e consequentemente as ações que eu resolver adotar também serão baseadas nisso e nas percepções que o ChatGpt conseguiu reunir sobre o tema com base no que o seu algoritmo pode interpretar a partir de buscas na internet.
O que eu quero dizer com isso é que se eu quero que alguém leia meu conto (cuja história é baseada no folclore dos Guaranis: um dos povos originais da América do Sul), talvez seja mais interessante eu não focar em dizer que o conto é baseado em folclore.
Pode parecer uma atitude controversa, mas não é. Não estou dizendo para mentir e dizer que a história não tem nada a ver com folclore, ou dizer que é sobre um tema quando na verdade é sobre outro. Além do mais, qualquer estratégia desonesta e enganosa só vai trabalhar contra o marketing do autor e da obra.
O que estou dizendo é que talvez seja melhor usar uma abordagem indireta. Exemplo: o conto A Rua dos Anhangás é uma história com fortes tons de mistério e horror, que narra eventos sobrenaturais perturbadores ocorridos em uma ruazinha estreita e sombria no coração de um bairro periférico da cidade de Osasco. Claro, esses eventos sobrenaturais estão fortemente ligados a lendas do folclore guarani do período anterior à colonização (invasão estrangeira); lendas essas que serviram de base para a construção do folclore brasileiro mais recente.
Como os leitores brasileiros parecem não se importar tanto e até mesmo demonstram certo preconceito com a temátia "folclore", é mais interessante focar nos demais aspectos que a história possui para fazer a sua divulgação, para escrever sua sinopse e inclusive para elaborar o seu título.
Isso não é mentir. A Rua dos Anhangás é uma história que pode ser enquadrada no horror, mistério, fantasia sombria e até mesmo fantasia urbana (eu não sou um especialista em gêneros literários e, por isso, posso não estar usando a classificação mais adequada para o meu próprio conto, mas gosto de pensar nele como um Thriller Sobrenatural recheado de horror e violência).
Acredito que essas características (horror, mistério, fantasia urbana) são mais relevantes para divulgar uma obra para os leitores brasileiros do que folclore.
Com isso eu estaria tirando a importância folclórica da obra? Ou enganando o leitor?
Alguém se sentiu enganado ao assistir a Yu Yu Hakusho, ou após ler As Aventuras do Caça-Feitiços? Claro que não. Essas histórias não são um tratado sobre folclore e nem mesmo são obras que se destinam a fazer uma representação fiel de lendas folclóricas. São histórias que tem o elemento folclórico como inspiração ou pano de fundo.
O mesmo ocorre com A Rua dos Anhangás; sua base folclórica é o mito de Tau e Kerana; um espírito maligno que rapta a jovem e bela filha de Mangaratu (um dos primeiros humanos). A união dos dois foi amaldiçoada pela deusa Jaci, e por isso os sete filhos de Tau e Kerana nasceram como monstros terríveis. Estes sete monstros, por sua vez, geraram numerosa descendência.
Tau sequestra Kerana, neta de Tupã |
Em "A Rua dos Anhangás" os monstros dessa lenda e os seus descendentes ainda vivem de forma disfarçada entre as pessoas comuns até os dias de hoje...
Aviso que isso não é um spoiler do conto: o leitor tem acesso a essa informação no prólogo do texto e por um simples motivo: o conto em si não é sobre Tau e Kerana e nem mesmo todos os sete monstros da mitologia Guarani são citados na narrativa.
Sendo assim, pode-se notar que a lenda folclórica sobre a qual a narrativa é construída é uma versão adaptada para o roteiro e serve apenas de pano de fundo para explicar a origem do sobrenatural presente no enredo. Porém, apesar da história ter suas raízes fincadas em um passado mítico, os seu galhos se estendem em direção ao presente, indo de encontro a problemas e temas atuais que se misturam com entidades sombrias e antigos monstros cruéis. Vemos isso logo no início da narrativa, em que o cenário é apresentado: o bairro é descrito como palco de estranhos e terríveis acontecimentos ao mesmo tempo em que questões como urbanização, violência urbana e o desaparecimento das culturas tradicionais dos povos originais são criticadas.Meu plano é mudar o título do conto para "Rua dos Monstros". Claro que o endereço sombrio no Santa Maria vai continuar sendo Rua dos Anhangás, porém como este é o endereço de criaturas perigosas, ela passará a ter um "apelido" carinhoso, assim digamos. E Rua dos Monstros é bastante apropriado se pensar em que tipo de seres habitam ali.
Outra mudança que farei na obra é quanto à sua sinopse. Vou adaptar o prólogo e usar descrições mais precisas sobre a história para criar uma sinopse mais interessante. Ao menos é o que eu pretendo fazer (criar sinopses mostrou-se uma arte desafiadora para alguém como eu que sempre teve dificuldade em escrever textos curtos e fazer resumos sintéticos e precisos sobre o que quer que seja).
Claro que a capa também precisa ser refeita e eu ainda não me decidi como irei criar a nova capa para essa nova versão do conto.
Por fim, pretendo expandir esse conto, inserindo nele todo o material extra que foi criado ao longo dos anos como pequenos spin-off dessa história que gira em torno de um lugar tão sinistro e misterioso de Osasco.
Por enquanto parte do trabalho está em andamento. Apesar disso eu ainda não sei quando tudo estará pronto (acho que vai depender muito de novas ideias que possam vir a surgir no meio do percurso).
Enfim, o trabalho de um autor independente é bem mais complexo e difícil do que pode parecer, como já citei outras tantas vezes em outros posts sobre o tema. Após quase seis meses desaparecido de Oz e de outros universos, outras missões me aguardam. E eu pretendo retomá-las uma por uma. Falo de RL&LR, Space Punkers, Psicotrápolas entre outros trabalhos...
Se alguém souber onde consigo dias com mais de 24 horas no planeta Terra, não faça cerimônia e me diga onde fica esse maravilhoso lugar.
Vou ficando por aqui, com meus negócios escusos.