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Eu já mencionei o meu exercício de criatividade voltada para escrita anteriormente aqui no Blog. Esse exercício deveria ser diário, mas no meu caso ele está mais para esporádico. Mas tudo bem, o importante é lembrar de realizá-lo (de preferência no horário em que você se sente com mais criatividade).
Bom, relembrando, o exercício se baseia em pensar e escrever uma lista de coisas impossíveis. Se não conseguir pensar em mais do que uma coisa, tudo bem: uma já é bom o suficiente...
A ideia de pensar e escrever é importante porque pensar em algo impossível é relativamente fácil (para a maioria das pessoas com facilidade em abstrair pensamentos, ou seja, usar a imaginação). Mas, mesmo para quem tem facilidade em ser imaginativo, transcrever um pensamento impossível em palavras escritas torna-se um desafio e tanto, visto que as palavras exigem lógica, coesão, ritmo, etc. Ou seja, escrever algo impossível de forma que este algo continue legal e interessante é um desafio e, portanto, um ótimo meio de treinar a escrita, seja lá o genêro sobre o qual você goste de escrever.
E o mais importante é que às vezes essas ideias podem virar um conto, ou até mesmo um romance. Foi assim, por exemplo, que eu escrevi o microconto "A Voz no Broche" entre outras coisas que produzi ao longo dos anos.
Ademais, criatividade, imaginação e escrita são atividades que se melhora com treino, técnica e experiência. Então tudo é válido quando se trata de se desafiar nessa área.
No meu exercício de hoje, escrevi o texto abaixo:
Canto Mordaz
OneShot Diário - escrita criativa: 23/08/2023
Em frente à casa para a qual eu acabo de me mudar; em um bairro antigo da cidade de Oz (não a do mágico de Oz, falo de Oz City, em São Paulo), há uma escola estranha, repleta de árvores velhas que sussurram à noite. Em uma dessas árvores há uma casinha de madeira que eu julguei ser a moradia de pássaros ou então de morcegos... Mas eu estava enganado. Certa noite, enquanto eu fumava na janela, hipnotizado pelo sussurro das árvores, vi uma diminuta mulher trajada com um longo vestido negro sair dessa casinha voando; ela mergulhou no ar e seus cabelos vermelhos e ondulados esvoaçaram junto com seu vestido, até que ela flutuou como uma bolha de sabão enfeitiçada, para então esvoaçar de um lado para o outro como um beija-flor cantarolante...
Ela parecia uma fada e também uma bruxa. Tinha a pele pálida como gesso e olhos que faíscavam como os de um gato selvagem refletindo a luz de uma fogueira à noite. Ela voou alto, gargalhando sinistramente e proferindo palavras em um idioma estranho enquanto cantarolava com a voz melodiosa de uma sereia. O mais bizarro é que, mesmo não conhecendo a sua língua, o significado de suas palavras parecia inviadir a minha mente, inclusive contra a minha vontade. E ela dizia algo como cabelos humanos dão boas cordas, tripas humanas ao molho são apetitosas, coração e fígado humanos se não forem devorados frescos devem ser jogados fora, entre outras rimas assustadoras. Seu canto mordaz me deixou arrepiado e apavorado. Foi quando ouvi o som de unhas raspando na porta de madeira da sala e aquela bela voz dizendo "quero devorar seu coração cru"...