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A importância de registrar as frases marcantes dos livros que estiver lendo
Eu li em algum lugar... Ou me falaram... (Ou as duas coisas: agora eu não lembro) que eu preciso criar uma persona para o meu Blog e imaginar que estou escrevendo para essa persona.
Então hoje farei isso; vou escrever para uma persona com o intuito de deixar o meu texto mais natural (isto é, o meu natural particular — que segundo muitos: é um natural bastante peculiar).
Vamos lá...
Olá Unala!
Há quanto tempo né?
Espero que tenha tido êxito em suas empreitadas recentes...
Como eu sei que você gosta de escrever e está pensando em começar um grimório próprio, vou lhe dar uma dica. Separe uma sessão no seu livro de feitiços para registrar frases marcantes que se tornam memoráveis quando as lemos e que podem ser úteis de alguma forma.
Esse é um costume antigo e muitas personalidade famosas fizeram uso desse recurso. Essas frases são chamadas de citações, quotes e até de grifos...
Mesmo que você vá deixar o grimório para o futuro, ter um caderno de referências para anotar frases e outras utilidades diversas pode ser bem útil.
Quando você estiver lendo uma história, um receituário, um manual ou o que quer que seja, vai acabar topando com frases especiais.
Como assim especiais?
De várias formas... Mas provavelmente você vai precisar treinar seus olhos para perceber algumas delas...
Não, não esses seus olhos lilases... Falo dos olhos da mente, do espírito. Esse tipo de coisa.
Enfim, você vai precisar treinar o olhar para perceber essas frases.
Pode ser uma frase inspiradora (e neste caso vai ser fácil perceber que é uma frase especial, porque afinal, ela te inspirou no momento em que você a leu). A frase pode não te inspirar necessariamente; mas pode conter uma dica ou um conhecimento muito precioso e útil (seja para o seu agora ou para o seu futuro ou até mesmo para o seu passado: sim, podemos precisar de ferramentas melhores para revisitar o nosso passado, mas falamos disso em outro momento...).
Mas, para quem gosta de contar histórias (especialmente de forma escrita), é útil analisar a estrutura das frases escritas por outros contadores de história. E aqui você vai precisar treinar para ler com olhos críticos e reler inúmeras vezes as frases que te marcarem por qualquer que seja o motivo, com o intuito de compreender como aquela frase é especial.
Hoje eu estou grifando mais uma frase interessante de um livro incrível que estou lendo (a conta gotas eu sei, mas como você bem sabe eu ainda não reorganizei a minha rotina completamente na casa nova, então ainda não defini o horário da minha leitura diária).
O que? Você não sabe o que é grifar?
Grifar pode significar:
- - Inclinar a letra para a direita ou compor em itálico;
- - Marcar com uma linha por baixo de palavra ou texto (ou sublinhar);
- - Pronunciar certas palavras do discurso de modo a lhes dar ênfase ou destaque (o mesmo que frisar, salientar ou novamente sublinhar).
E aqui eu uso essa palavra para dizer que estou anotando uma frase em meu caderno de referências, de forma a dar destaque para essa frase, memorizá-la e poder lembrar dela futuramente para estudo ou simplesmente porque achei uma frase bem construída.
Eu peguei o hábito de registrar frases marcantes dos livros que leio. Não apenas isso, como também as reescrevo com caneta e papel quando quero "treinar" a escrita.
Pode parecer algo básico e desnecessário.
Mesmo nas escolas de ensino fundamental a "cópia" de textos já não é mais usada como o cerne do aprendizado...
No entanto, eu acho que funciona no meu caso, para eu "gravar" a forma como essas frases marcantes funcionam.
Claro, o intuito não é copiar as frases de nenhum outro autor. Mas, ao ler muitas e muitas vezes um gênero textual e escrever trechos desses textos, faz com que eu consiga "internalizar" na minha mente como eles funcionam. Acho que isso é algo como "aprender por osmose", ou seja:
De tanto vivenciar uma coisa, acabamos nos misturando com ela...
Bom, o grifo de hoje vai para uma frase da saga As Aventuras do Caça-Feitiço e mais especificamente para um dos capítulos do livro 1: O Aprendiz.
Ela continuava a avançar na minha direção, e seus olhos pareciam crescer. Não apenas os olhos, mas todo o seu corpo estava inchando. Parecia se expandir em uma vasta nuvem negra que, dentro de momentos, escureceria minha visão para sempre.— Joseph Delaney (O Aprendiz: As Aventuras do Caça-Feitiço)
Nesta cena não temos uma reflexão filosófica ou moral e nem nada do tipo. Estou grifando essa frase devido à sua construção, à sua poesia e a forma econômica com que o autor expressa as sensações de Tom Ward ao encarar uma terrível feiticeira (Mãe Malkin).
Eu gostei particularmente do trecho "Parecia se expandir em uma vasta nuvem negra que, dentro de momentos, escureceria minha visão para sempre".
Esse trecho é metafórico e não literal. A feiticeira não estava de fato se expandindo em uma vasta nuvem negra: mas ao se aproximar dele na escuridão da noite atravessando a relva alta no campo próximo a um rio (ou seja, em um breu típico da área rural, longe da civilização e das luzes das velas e tochas das cidades), ela parecia uma mancha escura que crescia cada vez mais (o vulto da feiticeira crescia na medida em que se aproximava). Além disso, ao dizer que ela iria escurecer a visão dele para sempre, novamente ele está usando metáfora ao invés de falar de forma literal. A feiticeira não iria escurecer a visão do personagem, mas sim matá-lo.
Com isso, em poucas palavras o autor consegue transmitir o terror do personagem e as intenções homicidas de sua antagonista; uma velha feiticeira de aspecto cadavérico e que, apesar de já não estar no auge de sua força, ainda é suficientemente maligna para causar grande mal.