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A minha relação com o Dia dos Mortos
O dia dos Mortos, também chamado Dia de Finados, é comemorado em muitos países pelo mundo e — até onde pesquisei —, em geral trata-se de um feriado religioso. O objetivo é bastante claro: celebrar a memória dos entes queridos que faleceram. Parafraseando "Desventuras em Série", falecer significar morrer (mas eu sei que todos sabem disso e, provavelmente, Lemony Snicket também sabia).
A minha relação com essa data é uma história de família, um tanto engraçada, se considerarmos o tipo de humor da família Adams (que é como nossa própria família se apelidava quando meus irmãos e eu eramos crianças). Acontece que minha e suas irmãs (minhas tias) adoravam passear em cemitérios quando eram mais novas (suspeito que ainda hoje devam achar esse um passeio sublime). Não seria de estranhar um coveiro as confundir com um coven confabulando com os espíritos e fantasmas do lugar (talvez esse hipotético coveiro não estivesse tão errado, considerando no que aqueles passeios resultariam). Foi em um desses passeios, em pleno dia 2 de Novembro, que minha mãe conheceu o meu pai (talvez ele fosse um desses espíritos errantes e houvesse saído de alguma cova, cripta ou tumba escura, disfarçado de galã — ao menos aos olhos das mulheres daquele tempo). Eu não conheço em detalhes sobre como foi esse encontro (nunca quis perguntar, por motivos óbvios), mas imagino que minha mãe deva ter perguntado se ele estava ali para celebrar a memória de algum ente querido. Se ela fez essa pergunta, certamente se surpreendeu com a resposta: não, eu vim aqui comemorar meu aniversário. Meu pai nasceu no dia de finados, o que é bem apropriado para alguém com gostos tão góticos como é o caso desse indivíduo. Ele contava para mim e meus irmãos que no dia do seu nascimento, em um pequeno hospital em Minas Gerais, a casa dele pegou fogo. Eu não duvido.
Sei que não preciso falar, mas esse encontro um tanto quanto singular terminou em casamento e como resultado eu estou aqui hoje, escrevendo esse post (e outros tantos) sobre assuntos sombrios ou literatura fantástica (quase sempre literatura fantástica recheada de mistérios e elementos góticos). Talvez a maça não caia muito longe da árvore. Em alguns aspectos, espero ter caído suficientemente longe (a árvore possui alguns galhos malignos, mas isso é outra história).
Pode parecer que estou fugindo do assunto principal, mas não é o caso. Afinal, esse feriado celebra vida e morte. No que me diz respeito, posso dizer que a história da minha família começou com essa celebração e a formação de uma família quase sempre significa novas vidas a caminho (e com os meus pais foi esse o caso). Em vida, não deixamos a memória dos nossos entes queridos ser esquecida. É engraçado que nem mesmo deixamos que se esqueça a memória de entes queridos que sequer chegamos a conhecer. É o caso com meu irmão mais velho; o Anderson morreu com apenas alguns dias de vida, mas sempre lembro que tenho um irmão que é mais ou menos um ou dois anos mais velho e embora eu nunca o tenha conhecido (isso não seria possível), penso nele com certo carinho. Nessa data também lembro dos amigos que já perdi (foram poucos, mas essas perdas foram muito dolorosas para mim e para os amigos do meu pequeno circulo social). É com pesar que lamento a partida do Danilo (o Dark) que faleceu devido a uma forte pneumonia e o André (que se foi por causa da maldita Covid).
Vamos agora falar um pouco sobre o feriado em si...
Dia dos Mortos: origens e costumes
O dia dos mortos é celebrado em 2 de novembro, um dia depois do dia de todos os santos (e dois dias depois do Halloween), que celebra os fiéis que morreram em estado de graça. A origem do feriado é incerta, mas acredita-se que tenha se originado na Europa no século X. No início, era um feriado católico que celebrava as almas que estavam no purgatório. No século XIII, a data foi oficialmente estabelecida como o dia de Finados.
No Brasil, o dia dos mortos é mais comemorado pela Igreja Católica, quando os cristãos costumam visitar os cemitérios para colocar velas, flores e trazer orações aos entes queridos já falecidos. Também podem ser realizadas missas nos locais. Em algumas regiões do país, como no Nordeste, também há a tradição de fazer bolinhos fritos chamados de “roscas” ou “beijus”, que são distribuídos aos pobres ou deixados nos túmulos como oferendas.
O dia dos mortos no Brasil tem algumas semelhanças com o dia dos mortos no México. Lá, o dia dos mortos é uma celebração indígena que mistura elementos pré-hispânicos e cristãos e trata-se de uma festa muito popular e colorida. Ela ocorre entre o final de outubro e os primeiros dias de novembro, e acredita-se que nesse período os mortos podem visitar os parentes vivos. Por isso, as pessoas enfeitam suas casas com altares, flores, velas, incensos, fotos e objetos dos falecidos. Também colocam comidas, bebidas, doces e pães típicos chamados de “pan de muerto”. Um dos símbolos mais famosos do dia dos mortos no México é a “catrina”, uma caveira elegante que representa a ironia e a alegria diante da morte.
O Dia dos Mortos em outros países
O dia dos mortos também é celebrado em outros países, tanto na América Latina como no mundo, como Bolívia, Peru, Equador, Guatemala, Japão e China, cada um com suas peculiaridades. Claro, devem haver até mais países, mas eu só estou listando os que encontrei em minha pesquisa para esse post.
Na Bolívia há o “dia das caveiras” (dia de los ñatitas), em que as pessoas levam os crânios de seus antepassados para serem abençoados nas igrejas. Você pode conferir mais informações no site Bolivia Cultural que é a fonte onde pesquisei sobre isso.
No Peru, há o “dia das almas” (día de las almas), em que as pessoas levam comida e bebida para os cemitérios e fazem festas com música e dança. Você pode conferir mais informações no site Machu Picchu Viagens.
No Equador, Cada 2 de Novembro, as diferentes regiões do país recordam os falecidos com uma amálgama de tradições e ritos ancestrais que fazem parte da cultura equatoriana. É impossível falar do Dia dos Mortos no Equador sem mencionar dois pratos ancestrais: a “colada morada e as guaguas de pan”. Você pode conferir mais informações no site Cultura Cervantes.
Na Guatemala, há o “dia de todos os santos” (día de todos los santos), em que as pessoas soltam pipas gigantes para se comunicar com os mortos. Você pode conferir mais informações no site Orsola.
No Japão, além de realizar missas e visitar cemitérios, as famílias participam de festivais com danças, fogos de artifício e acendem lanternas de papel que flutuam em mini-barcos nos rios, para homenagear entes queridos que já partiram. Você pode conferir mais informações no site Cultura Japonesa.
Na China, o Dia de Finados é chamado de Qingming. Os chineses costumam ir aos cemitérios para limpar os túmulos de entes queridos e depositar flores. Também é chamado de Dia da Varredura de Tumbas, pois limpar e arrumar as tumbas é um sinal de respeito. Você pode conferir mais informações no site IbraChina.
Concluindo
O Dia dos Mortos é uma celebração da vida e da morte, que varia de acordo com a cultura e a religião de cada país (às vezes até conforme a história pessoal de cada pessoa ou cada família, como é o meu caso). No Brasil, é um feriado católico, em que as pessoas visitam os cemitérios para rezar e homenagear os seus entes queridos. No México, é uma festa indígena, em que as pessoas enfeitam as suas casas com altares, flores, velas e caveiras. Em outros países, como Bolívia, Peru, Equador, Guatemala, Japão e China, há também tradições diferentes e interessantes para lembrar dos mortos.
O Dia dos Mortos é uma oportunidade para refletirmos sobre o sentido da vida e da morte, e para agradecermos pelas pessoas que fazem parte da nossa jornada. Mesmo que elas não estejam mais aqui conosco fisicamente, elas estão sempre presentes no nosso coração e na nossa mente. Que possamos celebrar a memória dos nossos entes queridos com amor, respeito e alegria.