Halloween: qual a origem e curiosidades dessa festa cheia de gostosuras e travessuras?

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O que é o Halloween?

Você sabe qual é a origem do Halloween e por que ele é tão popular no mundo todo? Descubra suas curiosidades macabras e tradições divertidas aqui...

O Sobrenatural exerce sobre as pessoas a mesma força magnética que a luz exerce sobre as mariposas. As pessoas buscam por ele desde que se deram conta de suas consciências.

E não importa se o buscam em uma religião, em uma lei cientifica, em uma crença antiga ou moderna; é fato que o Sobrenatural faz parte de nossas almas.

Sempre gostei de histórias fantásticas e de suas criaturas sinistras, sombrias, estranhas e incompreendidas. Elas são reflexos de nosso próprio espírito e do nosso desejo de explorar o desconhecido. Eu já falei sobre isso em um post aqui no Blog e cujo texto é um assunto que eu considero importante (para quem escreve, para quem lê e também para quem gosta de olhar para a vida com outros olhos, vendo mais do que as coisas mostram). Esse post fala sobre a verdade por trás do faz de conta.

uma bruxa em uma noite de luar em uma região remota da romênia
Ao longo da minha vida eu sempre gostei de assuntos sobrenaturais, mas só depois de adulto que eu comecei a me afeiçoar ao Halloween, talvez como uma forma de contrabalancear os feriados e crenças religiosas praticadas por uma cultura que eu considero tão hipócrita quanto a nossa e talvez também porque foi um feriado que me permitiu passar parte dos meus valores para as crianças em casa. Sim, usamos as datas como uma forma de reforçar valores sócio culturais. No meu caso, uma pessoa um tanto sombria e com uma visão "peculiar" do mundo, os monstros e criaturas tenebrosas são figuras importantes em minhas crenças. Sendo assim, o Halloween é uma época muito propícia para falar sobre o assunto. E também para relembrar monstros reais, de carne, osso e ideologia.

Mas o que é exatamente o Halloween?

Vamos começar o texto de hoje respondendo a essa pergunta.

O Halloween é uma celebração popular de culto aos mortos que ocorre anualmente no dia 31 de outubro. O termo tem origem na expressão em inglês All Hallow’s Eve ("Véspera de Todos os Santos"), pois é comemorado um dia antes do feriado de 01 de novembro.

Como tudo possui uma origem (eu acho...), essa celebração começou em algum lugar no espaço-tempo. Vamos agora viajar para a Europa, mais especificamente para a terra dos Celtas e falar um pouco sobre a origem dessa celebração tão popular hoje em um mundo globalizado.

Qual é a origem do Halloween?

A origem do Halloween remonta aos antigos festivais celtas, chamados Samhain, que marcavam a passagem de ano e a chegada do inverno. Para os celtas, o início do inverno representava a aproximação entre o nosso mundo e o mundo espiritual onde vivem os mortos. Os celtas acreditavam que no início do inverno os mortos regressavam para visitar suas casas e que assombrações surgiam para amaldiçoar seus animais e suas colheitas. Todos os símbolos que hoje são característicos do Halloween eram formas utilizadas pelos celtas para afastar esses maus espíritos.

Com a cristianização das terras europeias, a Igreja Católica tentou substituir o Samhain pela festa de Todos os Santos, que passou a ser celebrada em 1º de novembro. No entanto, as tradições pagãs persistiram e se misturaram com as cristãs, dando origem ao Halloween como conhecemos hoje. Ou seja, o crossover entre "universos" da cultura pop não é algo tão atual quando acreditamos e as pessoas já faziam crossovers culturais a bastante tempo como forma de tentar substituir uma cultura pela outra.

A cultura de celebração do Halloween é muito forte em países de língua anglo-saxônica, sobretudo nos Estados Unidos. A tradição do Halloween foi levada pelos imigrantes irlandeses aos Estados Unidos, onde a data é considerada feriado. Nos Estados Unidos, as pessoas se fantasiam de personagens assustadores ou divertidos, decoram suas casas com abóboras esculpidas e velas, e saem pelas ruas pedindo doces ou fazendo travessuras. Também há festas, visitas a casas mal-assombradas, contos de histórias de terror e outras atividades relacionadas ao tema.

Tradições do Halloween: doce ou travessura?

Existem muitas atividades típicas do Halloween, como enfeitar casas, prédios, escolas, etc. Usar fantasias e até participar de festas temáticas. Mas a atividade mais conhecida e talvez mais emblemática sejao o "doce ou travessura" (trick or treat, em inglês).

A brincadeira surgiu nos Estados Unidos e consiste em andar fantasiado pela vizinhança e bater de porta em porta dizendo a tal frase à espera de receber doces, caso contrário é feita uma travessura a quem negar dar guloseimas. No condomínio onde eu morava essa brincadeira aconteceu durante alguns anos (apesar de alguns vizinhos seram contra e até colocarem cartazes de que "este apartamento" acredita em Deus e etc). Claro, estes vizinhos apenas queriam proteger seus lares de outras crenças e de crianças melecadas de doces perturbarem sua santa paz com gritos de gostosuras ou travessuras. Enfim, aqueles foram bons anos.

Apesar de a brincadeira não ser comum no Brasil, nesse dia há festas temáticas para adultos e crianças por aqui também (como o exemplo que citei acima).

As fantasias mais escolhidas estão relacionadas com bruxas, esqueletos, vampiros, zumbis, etc. Além dos trajes, as pessoas costumam se maquiar, com o objetivo de ficarem com o aspecto mais assustador possível.

A decoração envolve os tons de preto, laranja e roxo com símbolos alusivos à comemoração. Pelo que pesquisei, o significado das cores são:

  • Laranja é uma cor que traz vitalidade, energia e força.
  • Preto representa as bruxas, magos e feiticeiras.
  • Roxo simboliza a magia presente em toda a comemoração de Halloween

Símbolos do Dia das Bruxas

Há símbolos que estão sempre presentes, porque remetem ao sombrio: abóboras com recortes, bruxas, vampiros, morcegos, aranhas, fantasmas, caveiras, gatos pretos, velas, zumbis, e as cores laranja, preto e roxo.

As abóboras com velas acesas servem para iluminar o caminho dos mortos. O seu uso surge da modificação de uma lenda irlandesa, a lenda de Jack O' Lantern, alma de um homem que não foi aceito nem no céu, nem no inferno e que, assim, andava a vaguear na terra, iluminando as noites com um nabo.

Os gatos pretos, surgem em decorrência da sua associação à maldição e ao azar, enquanto os zumbis são cadáveres em busca de vingança.

Os vampiros são seres mitológicos que se alimentam do sangue das pessoas. Gostam da escuridão e dormem em caixões. Ao morder o pescoço de uma pessoa para se alimentar, transforma essa vítima também em vampiro. Tenho alguns posts aqui no Blog, falando sobre histórias de vampiros, que eu obviamente recomendo.

No Brasil, o Halloween não tem tanta expressão como nos outros países, mas vem ganhando espaço nos últimos anos. Algumas escolas, alguns condomínios residenciais, clubes e bares promovem festas à fantasia e decorações temáticas para celebrar a data. As crianças também se divertem com fantasias e brincadeiras inspiradas no Halloween. Além disso, há um projeto de lei que visa instituir o dia 31 de outubro como o Dia do Saci e seus amigos, em homenagem ao folclore brasileiro (o Projeto de Lei Federal n.º 2.762 institui a comemoração do Dia do Saci no dia 31 de outubro. Isso porque a introdução da Festa do Halloween no Brasil recebeu muitas críticas, sobretudo da Igreja Católica que acusou a celebração de pagã e pouco educativa). Mais uma tentativa de crossover cultural, só que neste caso o objetivo não é substituir uma cultura por outra e sim impedir a substituição da cultura local por outra. Claro que há uma enorme hipocrisia nesses atos... Que aliás, merecem uma pequena observação, já que estamos falando dessa comemoração que eu tanto aprecio. Para fazer essa observação, vou falar daquele que talvez seja o principal símbolo do Halloween, também conhecido como "Dia das Bruxas"...

Quem realmente eram as Bruxas acusadas pela Igreja?

Devemos lembrar que muitos dos símbolos do Halloween (vampiros, lobisomens, e principalmente as bruxas) são considerados símbolos pagãos devido à perseguição que a igreja católica empreendeu às culturas e religiões diferentes, com o propósito de ter mais devotos para a sua própria igreja e o papado. Por esse motivo, muitas mulheres sábias foram queimadas na fogueira pela inquisição durante a idade média. Eu recomendo inclusive um artigo no site da Capricho sobre esse assunto. Desse ponto de vista, me pergunto quem são os verdadeiros monstros (seja no Halloween ou em qualquer outro dia do ano).

Por muitos séculos as mulheres foram perseguidas pela Igreja, que possuía um tribunal especial para decidir sobre o que consideram paganismo e que combatiam como se estivessem enfrentando o demônio na Terra. Esses tribunais eram o que conhecemos como Inquisição. As pessoas que eram submetidas a esses "tribunais", quase sempre eram sentenciadas à morte e estas mortes eram horríveis: geralmente essas pessoas (a grande maioria mulheres) eram queimadas vivas em fogueiras. Essas mulheres eram chamadas de bruxas.

A Igreja via a bruxaria como uma forma de heresia, ou seja, uma crença ou prática contrária aos dogmas católicos. A bruxaria envolvia o uso de magia, feitiços, ervas e rituais que supostamente invocavam forças sobrenaturais malignas, como o demônio. A Igreja considerava isso uma ofensa ao primeiro mandamento, que proíbe adorar outros deuses além do Deus cristão. É possível ler mais sobre isso em um artigo no site Gaudiumpress.

A Igreja também via a bruxaria como uma ameaça à sua autoridade e ao seu poder sobre as massas. A bruxaria era praticada principalmente por mulheres pobres e marginalizadas, que tinham um conhecimento popular e empírico sobre a natureza e a saúde. Elas atuavam como curandeiras, parteiras, adivinhas e terapeutas nas aldeias e nos campos, onde vivia a maioria da população europeia na Idade Média. Essas mulheres eram respeitadas e procuradas pelas pessoas que precisavam de seus serviços, o que diminuía a influência dos padres e dos médicos oficiais da Igreja. Recomendo um artigo no site Escolaeducação que fala sobre isso.

Vemos um pouco sobre isso no incício da primeira temporada da série Castlevania, da Netflix. Não é a toa que nessa série conseguimos simpatizar com Drácula e suas motivações. Eu já falei um pouco sobre essa série em um post aqui no blog.

A Igreja também tinha uma visão negativa e discriminatória das mulheres em geral, baseada em uma interpretação literal e distorcida da Bíblia. A Igreja culpava as mulheres pelo pecado original, pela tentação sexual e pela desobediência a Deus. As mulheres eram vistas como seres inferiores, fracos, ignorantes e propensos ao mal. A bruxaria era associada à feminilidade, à sexualidade e à rebeldia das mulheres, que desafiavam o domínio masculino e clerical. As mulheres que praticavam bruxaria eram acusadas de fazer pactos com o diabo, de participar de orgias e canibalismo, de causar doenças e catástrofes naturais, entre outras atrocidades (eu recomendo site Observatório3Setor, que fala sobre isso em um artigo repleto de informações). Embora eu deva dizer que dessa lista, orgias não poderiam e não deveriam ser consideradas como uma "atrocidade" pelo ato em si (desde que os participantes desse ato estejam ali por vontade própria), mas isso é papo para um outro post, quem sabe... Mas, friso que os religiosos colocam a "orgia" nessa lista apenas porque trata-se de um ato sexual (como se a igreja pudesse atirar alguma pedra no que diz respeito a esse assunto 😏).

Em outras palavras, o termo bruxa é uma criação da igreja católica, para literalmente demônizar a influência das mulheres que exerciam uma espécia de concorrência com a igreja católica.

uma linda e sensual bruxa trajada com uma túnica decotada de forma sensual e ousada flutua no ar e destrói uma igreja católica com um beijo que lança um feitiço de fogo, os aldeões fogem com medo dela e das chamas. noite de luar em uma região remota da romênia
Se as bruxas fossem de fato adoradoras do diabo e possuídoras dos poderes de que eram acusadas possuir, tenho certeza de que a Igreja Católica é quem teria queimada em meio às chamas.

Essas mulheres eram, na maioria das vezes, curandeiras, ou seja, pessoas que usavam o conhecimento popular e empírico sobre a natureza e a saúde para tratar de doenças e problemas físicos e mentais das pessoas. Elas usavam plantas medicinais, rezas, benzeduras, amuletos e outras técnicas que aprendiam com suas ancestrais ou com outras mulheres. Elas também eram parteiras, ou seja, ajudavam as mulheres a dar à luz seus filhos. Elas exerciam um papel importante nas comunidades rurais e urbanas, onde ofereciam seus serviços em troca de dinheiro, comida ou favores. O site HistoryUol traz um artigo interessante sobre essa questão. Bem como o site SegurosUnimed traz um texto muito valioso sobre o papel da mulher na medicina e traça o seu histórico neste papel (desde as curandeiras de antigamente que a mulher teve um papel importante no enfrentamento a doenças e epidemias).

Essas mulheres não eram bruxas no sentido de praticarem magia negra ou de fazerem pactos com o demônio. Elas eram bruxas no sentido de serem diferentes, independentes, sábias e poderosas. Elas desafiavam a ordem patriarcal e clerical que dominava a sociedade medieval. Elas eram perseguidas e condenadas pela Inquisição porque representavam uma ameaça aos interesses dos homens que controlavam a política, a economia, a religião e a cultura da época.

Mas se as "bruxas" não eram adoradoras do diabo, então para quem ou o que elas rezavam?

Qual era a religião das "verdadeiras" bruxas?

Entrando no mérito das crenças a que as mulheres acusadas de bruxaria pela Inquisição possuíam, podemos dizer que elas não tinham uma única religião, pois estamos falando de mulheres que pertenciam a diversos povos e culturas e épocas distintas.

Na maioria das vezes, essas religiões eram politeístas (acreditavam em mais de uma deidade) e animistas (acreditavam que tudo possuia uma essência espiritual: animais, plantas, objetos e também as pessoas).

Algumas dessas religiões consideradas pagãs pela igreja católica eram:

As crenças nórdicas, que era a religião dos vikings e de outros povos germânicos. Eu estou chamando de crenças nórdicas, porque as tradições espirituais dos vikings e outros povos nórdicos não tinham um nome e nem um sistema rígido. Eles cultuavam deuses como Odin, o pai dos deuses e senhor da guerra, da sabedoria e da magia; Thor, o deus do trovão e protetor dos humanos; Freya, a deusa do amor, da beleza e da fertilidade; Loki, o deus da trapaça e da transformação; entre outros.

uma linda e sensual bruxa trajada com uma túnica decotada de forma sensual e ousada flutua no ar e destrói uma igreja católica com um beijo que lança um feitiço de fogo, os aldeões fogem com medo dela e das chamas. noite de luar em uma região remota da romênia

As crenças celtas era a religião dos povos celtas que habitavam a Grã-Bretanha, a Irlanda, a França e outras regiões. Eles cultuavam deuses como Dagda, o pai dos deuses e senhor da vida e da morte; Morrigan, a deusa da guerra, da soberania e do destino; Brigid, a deusa do fogo, da poesia e da cura; Lugh, o deus do sol, da luz e das habilidades; entre outros.

As crenças greco-romana, que era a religião dos antigos gregos e romanos. Eles cultuavam deuses como Zeus (Júpiter), o rei dos deuses e senhor do céu e dos raios; Hera (Juno), a rainha dos deuses e deusa do casamento e da família; Atena (Minerva), a deusa da sabedoria, da guerra e das artes; Apolo, o deus do sol, da música e da profecia; entre outros.

As várias religiões tradicionais da Africa, que eram as religiões dos povos africanos que foram trazidos como escravos para a Europa e para as Américas. Eles cultuavam divindades como Olorum, o criador supremo e fonte de toda a energia; Orunmila, o orixá da sabedoria e do destino; Oxum, a orixá do amor, da beleza e das águas doces; Xangô, o orixá do fogo, do trovão e da justiça; entre outros.

Em outras palavras, mulheres que possuíam religiões diferentes, ou que possuíam conhecimento, influência ou comportamentos que não eram tolerados pela Igreja Católica eram assassinadas com a justificativa de que "o Deus Católico" era o único caminho, forçando as pessoas a seguirem esse Deus e seus representantes na Terra através do medo.

Infelizmente, o numero de vítimas da Inquisição é grande. De modo que não é difícil pesquisar e encontrar exemplos desses terríveis atos cometidos contra essas mulheres acusadas de bruxaria.

Exemplos de mulheres acusadas de bruxaria

Vou citar apenas 4 exemplos. Mas recomendo que não apenas a história dessas mulheres sejam estudadas, bem como os atos da igreja sejam lembrados... Atos não. O termo "ato" tira o verdadeiro peso da coisa toda. Na verdade, que os crimes da Igreja Católica jamais sejam esquecidos e suas vítimas sejam lembradas. Além disso, quando pensamos em mulheres acusadas de bruxaria e queimadas na fogueira, lembramos de uma Europa medieval, de Salem e de uma realidade remota da nossa... Mas não é bem assim. A Inquisição não se limitou à Europa e o cenário dessas atrocidades são bem mais familiares do que gostariamos de supor. Sim, isso incluí o Brasil.

Agnes Sampson: Ela era uma famosa curandeira que morava na Escócia no século 16. Ela foi acusada de bruxaria pelo rei James VI, que alegou que ela tentou lançar feitiços contra ele. Ela foi torturada e confessou sob coerção. Ela foi queimada na fogueira em 28 de janeiro de 1591.

Joan of Arc: Ela era uma heroína francesa que liderou o exército francês contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos. Ela afirmava ter visões divinas que a guiavam em suas missões. Ela foi capturada pelos ingleses e julgada por um tribunal eclesiástico, que a condenou por heresia e bruxaria. Ela foi queimada na fogueira em 30 de maio de 1431.

Anna Göldi: Ela era uma empregada doméstica que trabalhava para uma família rica na Suíça no século 18. Ela foi acusada de envenenar a filha do seu patrão com agulhas, que supostamente saíam do corpo da menina. Ela foi torturada e confessou ser uma bruxa. Ela foi decapitada e depois queimada na fogueira em 13 de junho de 1782.

Ursulina de Jesus: Ela era uma escrava negra que vivia no Brasil no século 18. Ela foi acusada de bruxaria pelo seu senhor, que alegou que ela causava doenças e mortes na sua família e nos seus animais. Ela foi julgada pelo tribunal da inquisição, que a condenou por feitiçaria e pacto com o demônio. Ela foi queimada na fogueira em 22 de outubro de 1761.

Por qual motivo comemorar o Halloween?

Dentro os vários motivos para eu comemorar o Halloween, este é apenas um deles: lembrar que existem outras religiões e crenças pelo mundo e que pessoas já foram massacradas simplesmente por acreditarem em algo diferente e terem conhecimento. Vejam só que pecado: ter conhecimento. Não a toa o símbolo do pecado original na religião católica fale exatamente sobre isso: a humanidade caiu em ruína após comer o fruto da árvore do conhecimento... Não obstante, a igreja é quem queria deter o conhecimento para si mesma. Enfim. Viva o Halloween!

uma bruxa linda e sensual trajada com uma túnica decotada de forma sensual e ousada flutua no ar e destrói uma igreja católica com um beijo que lança um feitiço de fogo, os aldeões fogem correndo com medo dela e das chamas, crânios e corpos queimados no caminho. noite de luar em uma região remota da romênia

Dia do Saci

Voltando um pouco ao projeto de lei que via instituir o dia do Saci na mesma data do Halloween, eu compreendo bem a motivação e o medo dessa "invasão cultural estrangeira". Eu entendo, mas é claro que eu não concordo. Se há um motivo para esse projeto de lei existir, é que se sabe (aqui no Brasil) que o folclore brasileiro foi suficientemente infantilizado para que as "crianças" não sejam "desviadas do caminho da igreja" por esse aspecto da cultura popular. Em contrapartida, o Halloween parece exercer um apelo maior sobre pessoas que já não são mais crianças, como adolescentes e jovens adultos.

E qual é o problema do Halloween ser tão "sedutor" para essas faixas etárias?

Ora, do meu ponto de vista não há problema algum...

Mas para pessoas mais "tradicionais", "religiosas" e até mesmo um tanto quanto "eclesiásticas" essa coisa de Halloween e dia das Bruxas pode levar a coisas menos inofensivas, como pessoas se vestindo de monstros, se interessando por temas como bruxas e daí para a Wicca e outras crenças é um pulo.

Em outras palavras, o dia do Saci é apenas mais um capítulo nessa guerra por influência da Igreja Católica (e outras igrejas mais poderosas e influentes, como a Evangélica) e contra símbolos que se lutou por tanto tempo para combater. Sobretudo esse símbolo de poder femininio tão temido: o símbolo da Bruxa.

Não há de fato nenhuma ameaça ao folclore brasileiro. Pelo menos nenhuma ameaça que venha do Halloween propriamente dito.

Aliás, minha opinião é que se há uma grande ameaça ao folclore nacional, esta certamente não é o Halloween. A maior ameaça ao folclore do nosso país é o mercado, que levou escritores como Monteiro Lobato e infantilizar e deturpar nossas lendas. Não que esse processo de "industrialização" do folclore e da cultura seja uma problema exclusivamente brasileiro. Enquanto que aqui no Brasil o Jaci Jatere foi transformado em um mero Saci pererê para atender ao apetite voraz do mercado, lá nos Estados Unidos os contos de fadas e lendas que em sua origem eram assustadores e às vezes até macabras foram infantilizadas por um tal Walt Disney.

Um paralelo do processo de industrialização do folclore

Fazendo um paralelo desse processo de industrialização do folclore, vamos comparar duas lendas:

O Jaci Jaterê é um dos sete monstros paridos por Kerana, mulher que foi amaldiçoada pela deusa Araci (divindade lunar dos povos guaranis) e que por isso só daria à luz a filhos monstruosos. Jaci Jaterê é, de todos os sete filhos, o que tem a aparência mais agradável: paraece um garoto ou um homem jovial e de baixa estatura, com cabelos dourados e olhos azuis e carrega um cajado mágico consigo e é considerado protetor da erva-mate e de tesouros escondidos. Seu nome significa "pedaço da lua", mas este ser não é tão inofencivo quanto seu nome e aparência fazem parecer. Ele encanta as crianças desobedientes que não descansam durante a sesta (o descanso do meio do dia) e as atraí para a floresta, onde ela são entregues para um dos irmãos de Jaci, o Aho Aho, uma criatura carnívora (que pode ser vista como uma queixada monstruosa) que se alimenta dessas crianças. Mas como as culturas aborígenes brasileiras não dominavam a escrita e transmitiam suas lendas de forma oral, esta é apenas uma das versões dessa lenda folclórica. No entanto, a maioria das versões possui um caráter muito mais sombrio do que a versão infantil do Saci Pererê; criatura mágica e traquinas que amarra o rabo dos cavalos, rouba tortas e assusta os animais nos currais. A propósito, estou reescrevendo um conto que tem o Jaci Jaterê como uma de suas personagens principais. Falo sobre isso nesse post em mais detalhes.

Paralelamente, vamos comparar essa mudança do personagem Jaci em Saci com as versões da Pequena Sereia, sem, contudo, entrar em muitos detalhes. Enquanto que na versão original do conto de Ariel, esta é abandonada por seu amado e acaba se transformando em espuma do mar no final da história, deixando de existir (um final absolutamente sombrio). Já na versão em desenho da Disney (de 1989), Ariel e Eric se casam no final e vivem felizes para sempre (não consigo pensar em uma deturbação mais infantíl e despropositada de um conto que, em suas raízes, possui um final triste e sombrio).

Ou seja, em ambos os países (Brasil e EUA) existe essa mão maligna do mercado querendo transformar tudo o que toca em produtos "palatáveis" para todos os públicos.

E é por isso que eu gosto do Halloween. Esse feriado nos ajuda a lembrar (inclusive lembra o mercado) que existe espaço para os temas sombrios serem abordados e consumidos e eles tem um papel importantissimo em nossas mentes. Além disso, comemoro nesse mesmo dia o fato de que existem outras religiões e culturas que não a Católica, a Evangélica, e Islamica, a Judáica, etc. Existem as religiões consideradas pagãs e além dessas há todo um conjunto de crenças e conhecimentos antigos e que também refletem um modo de vida muito mais sadio (na minha opinião) do que essa cultura do medo, pois se a religião católica prega algo com os atos que praticou ao longo da história, este algo é o medo.

Indicações de leitura para o Halloween

Se você quer ler livros de terror para aproveitar o clima do Halloween, aqui estão algumas sugestões:

  • O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers: Uma coletânea de contos sombrios e interligados que exploram a relação entre arte, paixão e loucura. Nesta obra Chambers mergulha o leitor em um mundo de horror cósmico, onde o poder do Rei de Amarelo é temido e respeitado por todos aqueles que têm a infelicidade de conhecê-lo.
  • Drácula, de Bram Stoker: um clássico da literatura gótica que conta a história do vampiro mais famoso da ficção. O livro narra a luta entre o conde Drácula e um grupo de pessoas que tentam impedir seus planos de espalhar sua maldição pelo mundo.
  • Carmilla, a vampira de Karnstein de Sheridan Le Fanu: esta é a obra que veio a influenciar Bram Stolker na criação de Drácula. É uma novela que apresenta a vampira mais impactante da literatura gótica. A história é narrada pela própria protagonista: Laura, uma jovem que vive isolada com o pai em um castelo na Estíria – região do antigo império austro-húngaro. Uma hóspede inesperada, entretanto, despertará os sentimentos amorosos da jovem Laura, ao mesmo tempo que lhe causará certo terror ao trazer de volta antigos pesadelos da infância.
  • O Estranho Misterioso, de Mark Twain: este é um dos livros mais sombrios que eu já li. Nesta história somos levados para a Idade Média, numa pequena aldeia adormecida e apartada do mundo, onde surge um "estranho misterioso" que desafia a ordem estabelecida e se mostra capaz de realizar magias e proezas, ler mentes, ver passado e futuro, tornar-se invisível e mudar o destino das pessoas.
  • As Aventuras do Caça-Feitiço de Joseph Delaney: Thomas Ward é o sétimo filho de um sétimo filho e se tornou aprendiz do Caça-Feitiço. A missão é árdua, o Caça-Feitiço é um homem frio e distante, e muitos aprendizes já fracassaram. De alguma forma, Thomas terá de aprender a exorcizar fantasmas, deter feiticeiras e amansar ogros. Quando, porém, é enganado e cai na armadilha de libertar Mãe Malkin, a feiticeira mais malévola do Condado, tem início o horror... Veja só que a "bruxa" aparece aqui como uma força antagonista poderosa e que novamente coloca as mulheres do lado errado da história. Porém, eu gosto dessa história justamente porque o autor coloca alguns poréns nessa história de bruxas e feiticeiras. O próprio aprendiz Thomas Ward contesta os ensinamentos do seu mestre a esse respeito e por bons motivos. Além de tudo, a igreja está presente nesse livro e ela é poderosa e influente, mas nadinha benevolente. Esse livro é um delicioso contra ponto nessa história toda... Mas eu aind anão li a saga completa, por tanto só posso opinar até o quarto volume da série e minha opinião é: leiam no Halloween e não se arrependerão.

Mas agora vou ficando por aqui. Afinal, o Halloween se aproxima e eu preciso continuar trabalhando nos meus textos e em alguns preparativos para essa data... 🦇👻👹

uma linda bruxa trajada com uma túnica esfarrapada voando em uma vassoura, igreja pegando fogo, aldeões correndo com medo, noite de luar e névoa em uma região remota no campo