Yu Yu Hakusho: do mangá ao live action

 

Os protagonistas de Yu Yu Hakusho na frente de um fundo azul celeste

🤹‍♂️

Hoje eu vou falar sobre o Live Action de Yu Yu Hakusho. Minha irmã e eu estavamos muito ansiosos para a estréia do Live Action e confesso que eu estava também apreensivo. Porém, quando saíram os trailers da Netflix mostrando as primeiras cenas da produção eu fiquei muito animado.

Um pouco antes de assistir ao primeiro episódio ontém à noite, eu assisti a alguns reacts do Youtube e algumas entrevistas com alguns dubladores e fiquei muito contente em saber que a Netflix foi suficientemente esperta para colocar o elenco original de dubladores nesse trabalho. Já ganhou muitos pontos e, com a convicção de que eu não tinha mais o que temer, assisti ao primeiro episódio, sobre o qual vou falar um pouco.

Eu só não maratonei a série porque sou um asalariado com horários a cumprir. Mas eu poderia facilmente assistir aos cincos primeiros episódios dessa temporada sem fazer pausas. A adaptação está muito boa e possui um tom muito mais sombrio que o anime.

Claro que eu sou suspeito ao falar sobre o assunto: dos poucos assuntos sobre os quais eu sinto alguma nostalgia, Yu Yu Hakusho é um deles. Sempre gostei das trevas e dos assuntos relacionados a ela, de modo que por muito tempo esse anime foi uma referência no assunto para mim. E mesmo que outros animes com roteiros mais cabeça e mais filosóficos e até mais sombrios tenham surgido depois (por exemplo Full Metal Alchemist), poucos conseguiram reproduzir o mesmo carisma da obra de Yoshiro Togashi; Yu Yu Hakusho gera empatia não apenas com o lado humano da história, mas também gera empatia com o lado sombrio do roteiro. Repleto de vilões profundos e de perigos nascidos nas sombras dos corações humanos, Yu Yu Hakusho não é uma história sobre o bem contra o mau, mas sim uma história sobre como todos nós temos o bem e o mau dentro de nós.

A adaptação consegue ser ainda mais sombria e violenta que o anime e creio que ela flerte muito mais fortemente com a essência que emana do mangá: temos ali uma história sobre as trevas reproduzida sobre um jogo de câmeras, diálogos e insunuações arrepiantes para quem tiver suficiente sensibilidade para apreciar a obra nas minúcias.

Aliás, já aviso que o termo "adaptação" está sendo muito bem empregado no caso de Yu Yu Hakusho, pois o roteiro foi modificado para tornar a narrativa mais curta e direta (ao menos nesse arco inicial retratado na primeira temporada), de modo que as primeiras grandes missões de Yusuke já são apresentadas no primeiro episídio: os mosquitos das trevas controlados pela flauta de Suzako já dão as caras no primeiro episódio, a ressureição é abordada de forma mais ágil e direta (e na minha opinião essa foi uma ótima decisão) e o primeiro episódio fecha já anuncioando o roubo dos três tesouros do mundo espiritual (apenas por curiosidade, Togashi se inspirou em tesouros reais do relicário imperial do Japão). Alguns personagens que só aparecem mais para frente já são apresentados nesse primeiro episódio, como Sakyo (o rico empresário que financia o time Toguro e que é obcedado com a ideia de criar um túnel de ligação entre o mundo das trevas e o mundo dos Humanos).

Com todas essas mudanças, alguns elementos não apareceram nesse primeiro episódio e creio que não vão aparecer também nos demais episódios: como o ovo espiritual que no anime e mangá vai se transformar no Pio (e que não afeta em nada o roteiro).

Devo dizer que todas as adaptações no roteiro do Live Action foram uma ótima decisão: elas visam tornar a trama mais ágil e dinâmica e está funcionando muito bem nessa nova roupagem da série. E como essa nova roupagem está mais "trevosa", mais "dark", mais "sombria" (eu sei que estou sendo redundante e não posso evitar).

Temos muitas cenas nesse primeiro episódio que são exemplos claros do tom sombrio e violento do Live Action. Algumas dessas cenas estão fenomenais e impactantes (estou pensando em uma em específico, mas não direi qual para não estragar a surpresa).

Mas agora vou conter minha empolgação e tentar detalhar o máximo possível o que é Yu Yu Hakusho e a sua evolução desde o mangá até o momento presente de sua existência como Live Action (e que eu espero que faça um grande sucesso e tenha sim continuação: né, dona Netflix!).

Yu Yu Hakusho é uma série de mangá shonen escrita e ilustrada por Yoshihiro Togashi, que conta a história de Yusuke Urameshi, um delinquente juvenil que morre ao tentar salvar uma criança e se torna um detetive espiritual, encarregado de investigar casos envolvendo demônios e outras criaturas sobrenaturais. A série foi publicada na revista Weekly Shonen Jump de 1990 a 1994, e teve 19 volumes compilados. O mangá foi um grande sucesso, vendendo mais de 50 milhões de cópias no mundo todo, e ganhando o prêmio Shogakukan Manga Award em 1994.

O mangá original e o seu criador

capa do volume 1 do mangá de Yu Yu Hakusho
Yoshihiro Togashi nasceu em 1966, na cidade de Shinjō, na província de Yamagata, no Japão. Ele começou a desenhar mangás desde criança, e ganhou o prêmio Tezuka Award em 1986, com a obra Buttobi Straight. Ele se formou em educação na Universidade de Yamagata, mas decidiu se dedicar à carreira de mangaká após ser contatado por um editor da Shueisha. Ele estreou na Weekly Shonen Jump em 1989, com a série Ten de Shōwaru Cupid, uma comédia romântica sobre um garoto humano e uma garota demônio.

Em 1990, ele começou a publicar Yu Yu Hakusho, inspirado pelo seu interesse pelo ocultismo e pelos filmes de terror, e também pela mitologia budista. A série foi dividida em quatro sagas: Detetive Espiritual, Torneio das Trevas, Capítulo Negro e Três Reis. O mangá teve um final abrupto em 1994, devido ao estresse e à saúde debilitada de Togashi, que sofria de dores nas costas e insônia. Ele revelou que o roteiro original da série era diferente do que foi publicado, e que ele teve que mudar alguns elementos por pressão editorial ou por falta de tempo. Por exemplo, ele pretendia que o personagem Hiei fosse um vilão recorrente, mas acabou o tornando um aliado de Yusuke. Ele também planejava que o arco Três Reis fosse mais longo e complexo, mas teve que encerrá-lo de forma apressada.

Foto de Yoshiro Togashi e sua esposa Naoko: criadora de Sailor Moon
O nome Yu Yu Hakusho significa algo como “Relatório Poltergeist”, e se refere ao fato de que Yusuke, como detetive espiritual, tinha que escrever relatórios sobre os seus casos para o seu chefe, Koenma. O título também é uma referência ao filme Poltergeist, de 1982, que foi um dos primeiros filmes de terror que Togashi assistiu. O autor também usou vários nomes e conceitos da cultura japonesa, como youkai, reiki, reikai, makai, ningenkai, entre outros.

foto de Yoshiro Togashi, o mangaká criador de Yu Yu Hakusho
Togashi é casado com Naoko Takeuchi, a criadora de Sailor Moon, desde 1999. Eles se conheceram em uma festa da Shueisha, e se casaram após um ano de namoro. Eles têm dois filhos, um nascido em 2001 e outro em 2009. Togashi é conhecido por ser um grande fã de videogames, especialmente de RPGs, e por ter um estilo de desenho que varia de acordo com o seu humor e a sua disposição. Ele também é o autor de outras séries de mangá, como Level E, uma ficção científica cômica, e Hunter x Hunter, uma aventura fantástica que é considerada a sua obra-prima, mas que está em hiato desde 2018.

O sucesso do anime e da dublagem brasileira

O mangá de Yu Yu Hakusho foi adaptado para uma série de anime de 112 episódios, produzida pelo estúdio Pierrot e dirigida por Noriyuki Abe. O anime foi exibido na emissora Fuji TV de 1992 a 1994, e seguiu fielmente a história do mangá, com algumas diferenças e acréscimos. O anime também teve dois filmes, Yu Yu Hakusho: O Rapto de Koenma e Yu Yu Hakusho: Laços de Fogo, e seis OVAs, Eizou Hakusho, Two Shot e All or Nothing. O anime foi um sucesso de audiência e de crítica no Japão, e também foi exportado para vários países, como Estados Unidos, França, Itália, Espanha, Portugal, China, Coreia do Sul, entre outros.

uma foto presente no anime de Yu Yu Hakusho que mostra o grupo com a maior parte dos protagonistas unidos
No Brasil, o anime chegou em 1996, licenciado pela empresa Tikara Filmes, que logo vendeu a série para a Rede Manchete, que o exibiu no ano seguinte. A dublagem brasileira foi feita pelo estúdio Álamo, e contou com as vozes de Luiz Antônio Lobue como Yusuke, Alfredo Rollo como Kuwabara, Fábio Lucindo como Kurama, Carlos Falat como Hiei, Denise Reis como Keiko, Márcia Regina como Botan, Paulo Porto como Koenma, Guilherme Lopes como Toguro, entre outros. A dublagem brasileira foi muito elogiada pelos fãs, e se tornou uma das mais populares e marcantes da história da animação japonesa no país. A série também foi exibida por outras emissoras, como Cartoon Network, Rede 21, PlayTV e Band.

Yu Yu Hakusho foi um fenômeno de popularidade no Brasil, e conquistou uma legião de fãs que acompanhou as aventuras de Yusuke e seus amigos. A série também foi responsável por introduzir muitas pessoas ao universo dos animes e mangás, e por influenciar a cultura pop brasileira, com referências em músicas, filmes, quadrinhos, jogos, memes, entre outros. Yu Yu Hakusho é considerado um clássico da animação japonesa, e um dos melhores animes de todos os tempos.

A adaptação em Live Action

os quatro protagonistas centrais de Yu Yu Hakusho no Live Action da Netflix

Em 2020, a Netflix anunciou que estava produzindo uma adaptação em live action de Yu Yu Hakusho, com direção de Shō Tsukikawa e efeitos visuais da Scanline. O elenco da série conta com Takumi Kitamura como Yusuke, Jun Shison como Kurama, Kanata Hongô como Hiei, Shûhei Uesugi como Kuwabara, Keita Machida como Koenma, Kotone Furukawa como Botan, Sei Shiraishi como Keiko, Goro Inagaki como Sakyo e Go Ayano como Toguro. A série tem previsão de estreia para o dia 14 de dezembro de 2023, na plataforma de streaming da Netflix.

O teaser oficial da série foi divulgado em outubro de 2021, e mostrou algumas cenas da história, como o acidente que mata Yusuke, a sua ida ao mundo espiritual, a sua ressurreição, a sua missão como detetive espiritual, e o seu encontro com os seus aliados e inimigos. O teaser também revelou o visual dos personagens, que tenta ser fiel ao design original do mangá e do anime, mas com algumas adaptações e modernizações. O teaser gerou reações mistas entre os fãs, que ficaram curiosos, mas também receosos com a qualidade da adaptação.

Os rostos dos quatro protagonistas centrais de Yu Yu Hakusho no Live Action da Netflix
O primeiro episódio da série foi exibido em primeira mão no evento Tudum, da Netflix, em novembro de 2023, e mostrou o início da saga Detetive Espiritual. O episódio segue de forma geral a mesma trama do mangá e do anime, mas com algumas mudanças e acréscimos. Por exemplo, o episódio mostra mais detalhes da vida de Yusuke antes de morrer, como a sua relação com os seus pais, com os seus colegas de escola, e com os seus rivais de gangue. O episódio também introduz alguns personagens que só aparecem mais tarde na história, como Genkai, a mestra de Yusuke, e Rando, um dos seus primeiros adversários. O episódio também tem um tom mais sombrio e violento do que o anime, com cenas de sangue, morte e tortura. O episódio termina com Yusuke voltando à vida, e sendo recrutado por Koenma para se tornar um detetive espiritual.

A série promete ser uma homenagem aos fãs de Yu Yu Hakusho, mas também uma forma de apresentar a história para uma nova geração de espectadores. Com muita ação, humor, drama e fantasia, Yu Yu Hakusho é uma das adaptações em live action mais aguardadas pelos fãs de anime e mangá. Será que a série vai conseguir capturar a essência e o carisma dos personagens originais? Será que a série vai respeitar a obra de Yoshihiro Togashi, ou vai fazer alterações significativas na trama? Será que a série vai ter o mesmo sucesso que o mangá e o anime tiveram no Brasil e no mundo? Essas são algumas das perguntas que só poderão ser respondidas após assistir a série que acaba de estrear na Netflix (mais especificamente no dia de ontem, 14 de dezembro de 2023).

Na minha opinião (que por enquanto só assiste ao primeiro episódio) a série está fenomenal, mais dark e sangrenta e suas adaptações de roteiro são inteligentes e não excluem nada importante para a trama.

Agora eu vou ficando por aqui (há muito trabalho a ser feito no mundo espiritual), mas volto em breve.

Não conheci o outro mundo por querer... 👻