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Neste fim de dia, resolvi atualizar as minhas crônicas de um escritor independente. Eu não acho que o “independente” seja muito relevante no nome dessa sessão, porque afinal de contas, todo artista é uma mistura variável de independência e dependência. Por exemplo, são vários os exemplos de autores famosos que primeiro publicaram suas obras de forma independente, antes de terem seu trabalho reconhecido pela “indústria” editorial. Por outro lado, é preciso salientar que a maioria dos escritores são como os atletas: apenas uns poucos se tornam “viáveis” para essa “indústria editorial” (segunda a própria visão da indústria) e por isso, é possível afirmar que a maioria dos escritores é “independente” enquanto produz e divulga sua arte… Ou não divulga, conforme o caso, afinal, não tem todo artista sente a necessidade de expor seu trabalho, mas isso já é outra história.
Seja como for, não é sobre isso que eu vim falar. Nada disso. Estou aqui hoje apenas para discorrer um pouco sobre a importância dos nomes e sobre a importância de um nome em particular para mim e para o meu maior projeto literário desde que resolvi que me dedicar à escrita com algum nível de seriedade: ou seja, desde a minha adolescência.
Eu já mencionei em outros posts sobre a minha incerteza à respeito do nome que eu quero dar para essa saga, que ao longo de décadas teve vários nomes “temporários”. Como Dunkarus, Xamandala, Psicotrápolas, Sumenokan, Estrela Negra entre outros… Eu juro que tenho páginas e mais páginas com listas de nomes e em vários casos até textos explicando o motivo pelo qual o nome em questão se adequa aos elementos da saga. Eu levei anos estudando, pesquisando, anotando e filosofando sobre como encontrar o nome perfeito para batizar esse “conjunto de histórias”. Às vezes eu mesmo achava que essa busca por um nome era um tanto ridícula e a minha incerteza sobre escolher um ou outro nome era um sinal de um perfeccionismo exagerado que apenas atrasava o meu trabalho.
Claro, em dada altura dessa árdua labuta, eu percebi que nenhum nome seria “perfeito”, afinal, nomes perfeitos não devem existir… Ou será que existem?
Seja lá qual for a resposta para essa pergunta, o fato é que:
Primeiro: Sim, esse perfeccionismo exagerado era um sinal de insegurança. Eu sou muito inseguro para tomar decisões quando almejo um resultado perfeito. Isso não é bom, pois na arte, assim como em outras muitas questões da vida, a perfeição é completamente subjetiva e relativa a um contexto. Quantas vezes eu achava um nome "perfeito", para dali a duas semanas ficar em dúvida por que meu humor mudou e outros pontos de interrogação brotaram em minha cabeça?
Segundo: ao longo dos anos eu encontrei alguns nomes que pareciam realmente "perfeitos" para essa coleção de histórias; ou porque soavam "perfeitos", ou porque seus significados estavam extremamente alinhados com a mitologia dos livros em questão. O ponto é que se mais de um nome soou "perfeito", significa que talvez eu pudesse escolher qualquer um deles e, o quanto antes eu decidice fazer isso, mais rápido poderia ocupar a minha mente com outras questões e fazer o trabalho andar mais rápido. Essa é como aquela dica que os professores dão nas aulas de português, ao falar sobre redações: eles sempre dizem "deixe para escolher um título para a redação só depois de concluí-la" e isso faz bastante sentido, afinal, já saberemos do que se trata o texto e o nome poderá ser escolhido mais facilmente.
No meu caso isso era um pouco mais difícil, pois eu não tenho como concluir todos os livros de uma saga tão grande e que se divide em sub-sagas. Mas, ter escrito alguns livros e contos nesse universo, bem como ter definido algumas questões cruciais sobre sua mecânica, foram determinantes para a enfim conseguir pensar em um nome...
Talvez você esteja se perguntando: Por que diabos alguém passaria anos tentando encontrar um nome para uma coleção de histórias ao invés de escrever às histórias?
A resposta simples é que eu sou um pouco obsessivo compulsivo com detalhes e, além disso, omo eu citei acima, não deixei de escrever as histórias dessa coleção enquanto me martirizava nessa dimensão paralela de castigo autoinfligido por meio de uma busca maluca por um simples nome. Claro, a indefinição prejudicou o andamento da escrita e eu sinto que se já tivesse aceitado um nome no passado, talvez eu tivesse concluído mais histórias e mais rapidamente, mas isso é só uma impressão vaga.
A resposta complexa é que não existe isso de “simples nome”. Quem já leu o “Feiticeiro de Terramar” deve saber que nomes são importantes: quando sabemos o nome de algo, ganhamos poder sobre esse algo ou talvez, conforme eu prefiro pensar, ganhamos a capacidade de concretizar um “contrato de parceria” com esse “algo”, seja lá o que for esse “algo”.
Eu realmente acredito nisso e acredito também que essa coleção de histórias cresceu comigo. Eu idealizei esse projeto em uma das noites da minha juventude; quando eu deitava para dormir cedo e, ao invés de pegar no sono, ficava acordado até tarde sonhando com outros mundos. Em uma daquelas noites eu sonhei com a trama que daria inicio a todo um universo fantástico e sombrio. Não sinto, porém, como se eu tivesse criado nada. Ao invés disso, a sensação que realmente tenho é que naquela noite eu descobri a silhueta de uma terra distante no horizonte. A princípio pensei se tratar de uma pequena ilha. Conforme me aproximei dela e explorei mais, fui descobrindo que a ilha era muito maior que um continente. Conforme os anos se passaram o continente soava mais como todo um universo complexo e vivo e eu me sentia mais como um explorador, desenterrando histórias, descobrindo culturas, criaturas e enredos que ainda me fazem ficar acordado até tarde, enquanto sondo seus detalhes ao desenterrar as palavras e os nomes que formam toda essa misteriosa trama.
Mas me faltava um nome, com o qual eu pudesse abarcar todo esse árduo trabalho de descoberta, de exploração e labuta. Esse nome me faltou por muitos anos, pois parecia soterrado, talvez não nas profundezas desse universo, mas sim nas minhas dúvidas, incertezas e inseguranças.
Raios, eu descobri o nome já tem alguns anos e, mesmo assim, continuei relutando, dizendo para mim mesmo que não devia ser aquela a resposta. Criei outros nomes, outros textos e me afundei sobre o peso dessa terrível dúvida que parecia não querer me abandonar.
Acreditem, se o trabalho de um feiticeiro for descobrir o nome das coisas, então esse deve ser um trabalho árduo e laborioso e merecidamente os feiticeiros fazem por merecer seus incríveis poderes.
Finalmente eu voltei a me debruçar sobre essa questão, enquanto eu seguia com o meu plano de retomar esse projeto, me concentrando em desatar alguns nós que dificultavam minha evolução; como terminar o roteiro em que descrevo uma cronologia resumida desse mundo e revitalizar um idioma fictício que eu pretendo usar para nomear personagens e lugares importantes desse mundo e, claro, o principal nó de todos os outros: decidir-me por um nome…
Por algum motivo, a coisa andou dessa vez. Talvez o fato de eu estar me adaptando a um cérebro funcionando sem o efeito constante da cafeína (faz uns dois meses e meio que eu parei de tomar café), tenha destravado algum caminho misterioso em meu espírito, como em um cataclismo que revolve completamente o fundo do oceano e, formando um tsunami colossal, joga para terra os tesouros arcanos que a muito tempo dormiam em águas profundas. Esses tesouros podem mudar o mundo quando expostos à luz. E eis que a luz se fez em minha cabeça e eu entendi: sim, esse é o nome e eu já sabia disso. Só estava me debatendo, como um peixe que luta com o anzol na vã tentativa de conseguir a liberdade, quando na verdade “se debater” só piora tudo.
um dos meus desenhos de O Leão de Aeris |
Já estou trabalhando na revisão da cronologia do mundo onde essa saga se passa, em um documento que atualmente se divide em 4 grandes eras; às quais eu talvez acabe dividindo em uma quantidade de maior de eras.
Também acabo de descrever em um documento de 35 páginas tamanho A4 todo um sistema mágico amplo o suficiente para se adequar às mais diversas histórias dessa saga. Consegui encontrar um algoritmo melhor para criar os “pseudoidiomas” que irei usar para as mais diversas culturas desse universo e estou trabalhando nesse momento em um sistema de escrita melhorado e em um idioma que eu pretendo usar para nomear lugares e personagens importantes da primeira era do mundo.
Tenho outras coisas em aberto para finalizar. A maioria será tratada enquanto eu estiver revisando a cronologia resumida do universo. Dentre esses tópicos, constam definir raças e civilizações antigas e atuais, criar um bestiário suficientemente detalhado para cobrir os roteiros que eu já possuo em andamento, entre outras coisas.
Desta saga fazem parte sagas menores, livros isolados e até alguns contos.
Um dos meus desenhos de Ádavus |
Além desses títulos, alguns projetos como “O Governador das Masmorras” tiveram alguns textos publicados em um antigo blog meu (Dunkarus) e posteriormente eu republiquei esses textos aqui no meu blog atual, onde estou reunindo (aos poucos) todo o meu trabalho escrito.
Eu possuo alguns roteiros que merecem a minha atenção em um futuro próximo, como A Perigosa Confraria do Dragão Caolho e o Jaguar Escarlate. Sem contar em outras histórias desse universo, como Rei Ladrão & Lâmina Randômica.
Além desses roteiros, eu preciso finalizar o arco narrativo que começa com “O Leão de Aeris” e continua em “Mortalha de Fogo”. Esses livros não são exatamente continuações um do outro; eles são sequenciais do ponto de vista cronológico e fazem parte de um arco de histórias que se passa antes do início de “O Governador das Masmorras”.
Contudo, eu não vou planejar muito à frente ainda, pois a casa ainda não está completamente arrumada. Creio que o melhor a fazer agora, é concluir os ajustes de O Leão de Aeris e Mortalha de Fogo enquanto arrumo a casa. Paralelamente, preciso decidir a sequência cronológica de Mortalha de Fogo (eu tenho uma boa ideia de qual será essa história e sei disso há bastante tempo: está na hora de apresentar o terrível Gorgo e também dois dos personagens mais antigos sobre os quais escrevi há décadas).
Vou ficando por aqui, pois minha lista de tarefas intermináveis me chama.
Mas eu voltarei 🎃