A Jornada ao Oeste: Uma Aventura Épica que transcende a história e o folclore Chinês

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Hoje eu pretendo concluir a lenda do Rei Macaco, falando sobre a Jornada ao Oeste, um aventura épica do folclore Chinês. Mas, na verdade, essa história não começa com o Rei Macaco, que toma parte nela como mais um dentre vários protagonistas. A jornada ao Oeste gira em torno de um monge, que é o personagem principal dessa aventura. Seu nome é Xuanzang, embora em algumas versões dessa lenda (inclusive uma série live action da Netflix) eu já tenha visto ele ser chamado de Tripitaka. Mas vamos por partes...

A Jornada ao Oeste é uma das mais famosas e influentes narrativas da mitologia chinesa. Ela conta a história do monge budista Xuanzang em sua peregrinação para a Índia, com o objetivo de buscar sutras sagrados. Acompanhado por três discípulos incomuns, Xuanzang enfrenta inúmeros desafios em sua jornada, que simboliza a busca pela iluminação e a superação dos obstáculos da vida.

O Rei Macaco: um poderoso guardião

O personagem mais carismático e poderoso da jornada é Sun Wukong, mais conhecido como Rei Macaco, sobre o qual você pode ler mais detalhes nesse post. Nascido de uma pedra mágica, Sun Wukong possui habilidades sobrenaturais, como a capacidade de se transformar em qualquer coisa e uma força descomunal. Após causar caos nos céus, ele é aprisionado por 500 anos sob uma montanha.

Monkey King Hero is back
Libertado por Xuanzang, Sun Wukong se torna seu principal discípulo e protetor. Sua impulsividade e orgulho muitas vezes o colocam em conflito com os outros, mas sua lealdade e habilidades são essenciais para superar os desafios da jornada.

Os demais companheiros de jornada

Além de Sun Wukong, Xuanzang é acompanhado por outros dois discípulos. Vamos conhecê-los um pouco melhor agora.

Em um reino celestial, onde névoas douradas pairavam sobre palácios de jade, existia um imortal de nome Zhu Bajie. Contudo, sua imortalidade era manchada por vícios terrenos: a gula e a luxúria. Banido dos céus por seus excessos, reencarnou como um porco, carregando consigo a força sobre-humana e a covardia que o caracterizavam.

Journey to the West, showing a Buddhist monk alongside the mischievous little monkey king and the great boar warrior and a furious ogre with scales and gills. They are on their journey to India in search of the sacred sutras of Buddha. Art mixing the style of Chinese watercolor with Japanese ink

Sua nova forma, no entanto, não o afastou de seus apetites. Com uma barriga sempre roncando, devorava tudo o que encontrava pela frente, desde frutas celestiais até os mais simples legumes. Sua paixão por belas mulheres era igualmente insaciável, e seus olhos porcos brilhavam com desejo ao vislumbrar qualquer forma feminina.

O destino, porém, reservava-lhe uma jornada peculiar. Em meio a seus banquetes e paixões, foi recrutado para acompanhar o monge Xuanzang em uma perigosa expedição à Índia, com o objetivo de buscar as sagradas escrituras budistas.

Além de Zhu Baije, temos mais um personagem nessa história...

Nas profundezas dos rios celestiais, onde as águas corriam cristalinas e a brisa celestial soprava suave, existia um ser de força imensa e temperamento explosivo: Sha Wujing. Como um general celestial, sua fúria era temida, e sua força, inigualável. Contudo, sua raiva descontrolada o levou a cometer erros imperdoáveis, e como punição, foi banido para o mundo mortal, condenado a vagar pelas águas como um ogro fluvial.

Transformado em um monstro aquático, Sha Wujing habitou as águas turvas dos rios, alimentando-se de viajantes incautos que ousavam cruzar suas águas. Sua força bruta e sua fúria incontrolável faziam dele uma criatura temível, capaz de causar destruição em grande escala. No entanto, sob a casca de ogro, ainda residia um coração divino, atormentado pela culpa e pelo arrependimento.

O destino, em sua infinita sabedoria, cruzou o caminho de Sha Wujing com o do monge Xuanzang, que buscava as sagradas escrituras budistas. Ao ser subjugado pelo monge, Sha Wujing encontrou uma nova oportunidade de redenção. Acompanhado por Xuanzang, Sun Wukong e Zhu Bajie, o ogro fluvial iniciou uma jornada épica, repleta de perigos e provações.

Em resumo, temos:

  • Zhu Bajie: Um porco que foi banido do céu por sua gula e luxúria. Ele é conhecido por sua força e apetite voraz, mas também por sua covardia e desejo por mulheres.
  • Sha Wujing: Um ogro fluvial que foi banido do céu por sua raiva e violência. Ele é um guerreiro habilidoso e leal, mas também possui um temperamento explosivo.

Mas agora precisamos falar sobre a figura central da Jornada ao Oeste e que conseguiu reunir o trio peculiar de heróis cheios de virtudes, mas também de defeitos para poder realizar a perigosa jornada em busca dos Sutras sagrados...

Xuanzang: O Monge Peregrino e seu Legado

Xuanzang, nome que ecoa através dos séculos, é uma figura que transcende as fronteiras entre a história e a mitologia. Monge budista chinês, sua jornada épica à Índia em busca de sutras budistas o transformou em um dos mais célebres peregrinos da história, inspirando gerações e moldando a cultura chinesa.

Nascido em Luoyang, no século VII, Xuanzang era um jovem estudioso e profundamente devoto ao budismo. Insatisfeito com a superficialidade de alguns ensinamentos budistas em sua terra natal, decidiu empreender uma jornada arriscada e solitária para a Índia, berço da religião. A viagem, que durou cerca de quinze anos, foi marcada por desafios inimagináveis: desertos áridos, montanhas nevadas, bandidos e doenças.

Ao chegar à Índia, Xuanzang dedicou-se intensamente ao estudo dos sutras budistas, aprofundando seus conhecimentos e participando de debates com os mais renomados mestres da época. Ao retornar à China, carregava consigo um vasto conhecimento e uma coleção de sutras que enriqueceram significativamente o cânone budista chinês.

É possível ler mais sobre Xuanzang na internet, como neste artigo da Wikipedia.

O significado do termo Tripitaka

Como eu mencionei, já vi chamarem o monge Xuanzang de Tripitaka, como na série da Netflix que adapta a história da Jornada ao Oeste, dando-lhe uma nova roupagem. Nesta versão, o monge é uma mulher jovem, a quem chama de Tripitaka. Porém, pesquisando sobre o significado desse nome, eu descobri que Tripitaka não é exatamente o nome do personagem...

O termo "Tripitaka" é frequentemente utilizado como sinônimo da jornada de Xuanzang para buscar os sutras budistas e é um termo bastante comum em diversas adaptações da história.

"Tripitaka" é um termo sânscrito que significa "as três cestas" e se refere à coleção completa dos ensinamentos de Buda, divididos em três seções principais: Vinaya (disciplina), Sutra (ensinamentos) e Abhidharma (filosofia).

Ao buscar os sutras, Xuanzang estava, na verdade, buscando uma parte essencial do Tripitaka. Por isso, a jornada em si, muitas vezes, é chamada de "busca pelo Tripitaka" ou "peregrinação do Tripitaka". Pois no final das contas, o que o monge buscava era completar as "três cestas" do ensinamento de Buda.

Da História ao Mito

A história de Xuanzang transcendeu sua própria vida e se tornou parte do imaginário popular chinês. Seus feitos foram romantizados e transformados em lendas, culminando na criação de uma das mais famosas obras da literatura chinesa: "Jornada para o Oeste". Nessa obra, Xuanzang aparece como um monge sábio e paciente, guiando um grupo de discípulos excêntricos em uma jornada repleta de perigos e desafios. O mais famoso desses discípulos é Sun Wukong, o Rei Macaco, uma figura que se tornou um ícone da cultura popular chinesa.

O legado de Xuanzang é vasto e duradouro. Sua jornada impulsionou a tradução e o estudo dos sutras budistas na China, contribuindo para o florescimento da religião no país. Além disso, sua figura inspiradora tornou-se um símbolo de perseverança, sabedoria e busca pela verdade.

Ao longo dos séculos, Xuanzang continuou a ser reverenciado como um santo e um herói nacional. Templos e estátuas em sua homenagem foram erguidos por toda a China, e sua história é contada e recontada até os dias de hoje.

Xuanzang não foi apenas um monge, mas um explorador, um estudioso e um símbolo de uma época de grandes transformações culturais. Sua jornada, repleta de desafios e conquistas, continua a inspirar e a encantar pessoas de todas as idades e origens.

Mas, voltando para a Jornada ao Oeste, temos nela o mesmo objetivo principal da jornada real de Xuanzang...

O Objetivo da Jornada

A principal motivação da jornada é a busca por sutras budistas na Índia. Esses sutras são considerados sagrados e possuem o poder de trazer paz e iluminação. Xuanzang acredita que ao trazer esses sutras para a China, ele poderá ajudar a salvar o mundo do sofrimento e da ignorância.

Alguns dos principais vilões da Jornada ao Oeste

A Jornada ao Oeste é repleta de obstáculos e inimigos memoráveis. A seguir, vou listá-los.

  • A Demônia dos Ossos Brancos: Uma das vilãs mais famosas, a Demônia dos Ossos Brancos é uma criatura demoníaca que se alimenta da carne de monges budistas para prolongar sua vida. Ela assume diversas formas para enganar seus inimigos e é considerada uma das maiores ameaças à jornada de Xuanzang.
  • O Rei dos Macacos de Seis Orelhas: Uma criatura demoníaca que possui a habilidade de imitar perfeitamente o Rei Macaco. Ele causa grande confusão e caos, semeando a discórdia entre os peregrinos e colocando em risco a missão.
  • O Rei dos Búfalos Negros: Um poderoso demônio que habita uma montanha e se alimenta de carne humana. Ele é conhecido por sua força e ferocidade, e representa um grande obstáculo para os peregrinos.
  • O Rei dos Escorpiões: Um demônio que habita uma caverna subterrânea e possui um veneno mortal. Ele é um mestre da camuflagem e da emboscada, e representa um perigo constante para os viajantes.
  • Os Deuses Celestiais: Embora não sejam vilões no sentido tradicional, alguns deuses celestiais colocam obstáculos no caminho de Xuanzang para testá-lo e avaliar sua determinação. Eles podem criar ilusões, enviar monstros ou simplesmente negar ajuda aos peregrinos.
  • Os Demônios Montanha: Ao longo da jornada, Xuanzang e seus discípulos enfrentam diversos demônios que habitam montanhas e cavernas. Esses demônios geralmente possuem poderes mágicos e são protegidos por exércitos de monstros.

Os vilões da Jornada ao Oeste representam:

  • Os obstáculos da vida: Os desafios enfrentados pelos peregrinos simbolizam os obstáculos que todos nós enfrentamos em nossas vidas, como o medo, a dúvida, a tentação e a adversidade.
  • As forças do mal: Os demônios e criaturas malignas representam as forças do mal que tentam nos desviar do caminho da iluminação e da virtude.
  • A natureza dual da existência: A presença de deuses e demônios na história reflete a complexidade da natureza humana e a constante luta entre o bem e o mal.

Ao enfrentar esses vilões, Xuanzang e seus discípulos demonstram coragem, perseverança e fé, mostrando que a luz pode sempre vencer as trevas. A jornada deles serve como um lembrete de que, mesmo diante dos maiores desafios, é possível superar qualquer obstáculo e alcançar a iluminação.

Adaptações da lenda

São inumeras as adaptações da lenda, seja da Jornada ao Oeste em si, como dos personagens que dela participam, como o Rei Macaco, o monge Xuanzang, etc.

Monkey King Black Myth


Abaixo faço uma lista de algumas das muitas obras inspiradas nessa história:

Filmes e Séries

  • The Monkey King (2014) - Filme estrelado por Donnie Yen como Sun Wukong.
  • The Monkey King 2 (2016) - Continuação do filme de 2014.
  • The Monkey King 3 (2018) - Terceira parte da série de filmes.
  • Journey to the West: Conquering the Demons (2013) - Filme dirigido por Stephen Chow.
  • Journey to the West: The Demons Strike Back (2017) - Continuação do filme de 2013.
  • The New Legends of Monkey (2018) - Série de TV australiana e neozelandesa.
  • Monkey Magic (1998) - Série de TV japonesa.
  • Saiyūki (2006) - Série de TV japonesa.

Animações

  • Dragon Ball - Série de anime e mangá criada por Akira Toriyama, fortemente inspirada na lenda do Rei Macaco.
  • The Monkey King: Hero is Back (2015) - Filme de animação chinês.
  • Monkey King: The Hero is Back (2016) - Série de animação baseada no filme de 2015.
  • Journey to the West (1999) - Série de animação chinesa.

Mangás e Quadrinhos

  • Saiyuki - Mangá de Kazuya Minekura.
  • Dragon Ball - Mangá de Akira Toriyama.

Jogos

  • Sun Wukong: Dark Myth - Jogo de RPG baseado na lenda do Rei Macaco. Aliás, recomendo bastante que conheçam mais sobre esse jogo, indo lá no Lulluciverso e conferindo o post que a Lullucy fez sobre este RPG que tem tudo para ganhar prêmios em um futuro próximo (ao menos, eu acho que ele merece ganhar).
  • Enslaved: Odyssey to the West - Jogo de ação e aventura inspirado na “Jornada ao Oeste”.
  • Monkey King: Hero is Back - Jogo de ação baseado no filme de animação de 2015.
  • League of Legends - O personagem Wukong é inspirado no Rei Macaco.
  • Smite - O personagem Sun Wukong é jogável e baseado na lenda.

Por esse pequena lista já dá para imaginar o quanto o Sun Wukong e companhia impactam a cultura pop até os dias atuais, tanto na China como no mundo.

O Significado da Jornada

A Jornada ao Oeste é muito mais do que apenas uma aventura épica. Ela é uma alegoria sobre a vida humana, explorando temas como a busca pela iluminação, a superação dos obstáculos, a importância da amizade e a luta entre o bem e o mal. Os personagens da história representam diferentes aspectos da natureza humana, e suas aventuras servem como um lembrete de que a vida é uma jornada repleta de desafios e que a perseverança é a chave para o sucesso.

Bom, a quantidade de informação sobre a Jornada ao Oeste é impressionante, bem como o são seus personagens, vilões e significados. Esse artigo é apenas um grande resumo do que eu pesquisei sobre essa incrível lenda através de artigos, filmes, séries, etc. Ainda assim, há muito mais para conhecer sobre esse lenda e também sobre o personagem histórico que inspirou esse épico do folclore Chinês. Por isso eu recomendo muito a playlist do canal Centro Dao de Cultura Oriental, que trata dessa lenda.