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São 19 horas e o clima tropical aqui no Sudeste de São Paulo está úmido, escuro e um tanto quanto ameaçador. Foi assim pelo dia todo, conforme a foto desse post; tirada por volta das 14:30, mostra.
Aproveito para atualizar meu diário de escrita com meu humor do momento e uma breve atualização dos meus últimos trabalhos.
Eu tinha alguns planos para o Halloween desse ano, mas todos ficaram atrasados. A culpa é toda minha. Tenho trabalhado em muita coisa ao mesmo tempo e sei que isso em si é um problema: fazer muita coisa sem nunca terminar nenhuma é quase como não fazer nada. Então eu posso refletir sobre isso e concluir que estou a um bom tempo não fazendo nada. Isso não é ser completamente justo com alguém que escreveu tanto quanto eu escrevi, mas também não é completamente injusto. O que devo fazer daqui em diante?
Talvez eu tenha alguns problemas maiores para resolver e a forma como vejo o processo de escrita seja parte desse problema. Eu simplesmente não consigo escrever e criar quando não estou bem. É engraçado, pois sempre li que com os escritores a coisa geralmente funciona ao contrário: os grandes escritores escrevem mais e melhor quando estão mal. Bom, sei que essa deve ser uma visão estereotipada dos escritores e escritoras em geral. Mas só conseguir escrever quando estou bem também é uma visão interessante sobre mim: a forma como eu vejo a escrita é um problema pessoal. Se eu só escrevo quando estou bem, é porque a escrita não está sendo boa para mim. Se fosse, escrever me faria bem, principalmente quando eu não estou bem. Por acidente, porém, lembrei que às vezes escrever me ajuda. A primeira vez que passei por isso, há alguns anos, foi quando eu experimentei manter um diário.
Acho que essa é a lição mais importante que eu tive esse ano até o momento. E o mais engraçado é que eu percebi isso ao manter recentemente um pequeno registro pessoal completamente aleatório sobre um dos meus passa-tempos com jogos eletrônicos (um assunto que também me interessa bastante). Manter esse diário foi uma forma de controlar minha ansiedade e me distrair. Foi aí que eu tive a noção de que escrever poderia ser algo a buscar quando não estou bem.
Bom, sei que meu processo de escrita sofre bastante influência externa... Talvez, na verdade, seja o meu humor que sofre essa influência. O clima, por exemplo, é uma das coisas que sempre marcou o "humor" da minha escrita. Por exemplo, nesse momento, a chuva e a garoa tem me aproximado mais do gênero gótico do que das minas aventuras de fantasia sombria...
Por falar nisso e para não ser apenas introspectivo nesse registro diário:
Há dias que a chuva e a garoa não dão tréguas por aqui. Isso é bom, quando penso no outono e inverno seco que tivemos e principalmente; quando também penso no nível dos reservatórios de água que abastecem esse pedaço de mundo: o Sudeste brasileiro, terra estranha em que os mais diversos climas e pessoas coexistem de forma nada harmoniosa.
Por outro lado, também lembro de que o clima está diferente, um pouco temperamental demais: ou está muito secura, ou muito quente, ou chove muito. Ou seja: a palavra de ordem da vez é "muito", "excesso", "exagero" e talvez até "desequilíbrio". Nem gosto de pensar em coisas como "Antártida ficando verde" e "o pico do monte Fuji sem neve" pela primeira vez desde que se iniciaram os registros climatológicos. Esses tem sido algumas das manchetes recentes para quem acompanha a previsão do tempo e a pauta climática. Sobre a pauta política no mundo (incluindo o Brasil), nem vou falar: o clima também está nublado, pressagiando chuva pesada pelos próximos anos.
Apesar da preocupação com as mudanças climáticas (e com política), a chuva aqui no meu pequeno pedaço de mundo é bem vinda, ainda que com seus poréns. Essa semana, por exemplo, as crianças de uma creche pública passaram um susto tremendo quando a água as deixou ilhadas em mesas e bancos. Fiquei pensando no trauma de algumas dessas crianças ao ver as cenas em que algumas delas choram de forma desesperada naquela situação. Além do mais, estamos falando de uma creche, ou seja: de crianças muito pequenas em uma situação de risco considerável.
Bom, voltando para meu processo de escrita. É claro que eu gosto quando as coisas estão equilibradas, mas não posso negar que essa chuva constante, o céu nebuloso, a escuridão predominante e a ameaça constante das águas são uma inspiração para histórias recheadas de elementos góticos nesta atmosfera tropical ameaçadora (apesar dos pesares).
Estou trabalhando em um conto novo para a coleção Trópico Sombrio; coleção essa sobre a qual já falei aqui nos últimos dias.
O roteiro começou com uma proposta bem definida, mas conforme eu reescrevi e reescrevi e reescrevi o roteiro, a minha ideia inicial acabou se tornando algo um tanto quanto diferente. Mas não importa, afinal a adaptação é "fundamental" e sem isso, bem, eu dificilmente terminaria essa história.
Eu já falei aqui no Blog sobre a cidade de Iporanga e também sobre o gênero gótico combinar com o clima tipicamente tropical do Brasil. Bem, devo dizer que esse conto em questão tem tudo a ver com esses dois temas. Dizer mais que isso é ser irresponsável, pois o roteiro ainda não está completamente estabelecido, podendo ainda sofrer algumas alterações.
Pelo menos, até agora eu já escrevi uns três rascunhos bastante diferentes para esse conto e detestaria dar muita informação correndo o risco de que eu reescreva as coisas mais uma vez... Embora eu acredite que já tenha encontrado o fio da meada que procurava para levar essa história até o seu desfecho.
Acho que já li isso nas obras biográficas de Stephen King e Haruki Murakami: o trabalho de um escritor é 1% escrever e 99% reescrever. Ok, talvez estas não tenham sido suas palavras exatas, mas essa ideia certamente estava lá.
Além desse novo conto, eu publiquei na Amazon três histórias curtas na coleção Trópico Sombrio e anúnciei aqui no blog uma delas: Zona de Barateamento Populacional já está disponível para quem gosta de humor satírico misturado com uma narrativa ao mesmo tempo sombria, engraçada e desconcertante sobre nossa sociedade humana.
Apesar da minha vontade de ficar por aqui e escrever mais sobre muita coisa, preciso ir, pois não só muitas histórias me aguardam, como também outros trabalhos que nada tem a ver com a escrita.
Mas eu volto, senão para anunciar novos trabalhos ou o retorno de velhos trabalhos, pelo menos para dar continuidade nesse diário de escrita, ou talvez para falar sobre outras coisas também.