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Eu tenho tido uns dias um tanto quanto nostálgicos sobre a época em que comecei a escrever. Isso me faz pensar em como faz tempo isso. Será que estou ficando velho? Nem pensar, kkk.
Brincadeiras à parte, me recordo (e tenho como provar) que eu escrevia fichas de personagens conforme eu elaborava uma história. Tenho alguns cadernos da década de noventa escritos com caneta e lápis com algumas dessas fichas. Creio que comecei esse hábito sobre influência de alguns mangás que eu lia e que traziam as fichas dos protagonistas como conteúdo extra. Outra coisa que me influênciou um pouco eram as fichas de personagens que apareciam em algumas edições de revistras de vídeo-game. Eu nunca tive vídeos-games em minha infância (meus pais não tinham condições financeiras de bancar isso), mas eu adorava as revistas, pois nelas eu podia ler a história daqueles jogos incríveis e que eram ótimos exemplos de histórias de fantasia (sobretudo alguns rpg's muito famosos da época, como Final Fantasy, Grandia, Star Ocean, etc).
Bom, voltando para as fichas de personagens, eu já sabia naquele tempo como elas ajudavam a criar personagens mais críveis, com mais profundidade e como as fichas em si ajudavam até mesmo a construir a história, delineando o passado dos personagens e indicando quais são suas ambiões em relação ao futuro.
Não vou mentir e dizer que ainda hoje eu uso essas fichas. Às vezes eu as escrevo e acho que eu deveria escrevê-las sempre. Mas no geral, acho que aprendi a criá-las na cabeça, definindo algo como "esse personagem é assim e assado, e quer isso e aquilo, e gosta disso e daquilo outro". Em algum momento, porém, mesmo não criando uma "ficha" propriamente falando, até hoje eu acabo escrevendo uma síntese sobre os principais aspectos do personagem. Então, acho que é como se eu ainda criasse essa "ficha", mas em um formato de prosa ao invés de descrever as informações em uma lista de tópicos.
.jpg "Elvira: mulher brasileira com estilo punk")
Por exemplo, um dos contos nos quais estou trabalhando atualmente é o "Diário da Noite: Nas profundezas de Vila Porto", o qual faz parte do que estou chamando de PROJETO NIX. Bom, para esse conto, eu acabei criando uma seguinte nota sobre a protagonista Elvira Serranegra:
Ela é uma "mistura" das personalidades do agente Fox Mulder (de arquivo X) e Deeper (de Gravity Falls). Elvira costuma ser sarcástica e apesar do tema de pesquisa da sua vida (eventos sobrenaturais) ela é bastante cética; traço que desenvolveu para impedir que charlatães, golpistas ou crentes iludidos a arrastem para falsos casos sobrenaturais
Apesar de isso não ser uma ficha de personagem, ela é uma sintese de algumas informações que poderiam estar contidas em uma ficha, mas que no caso eu sei de cabeça ou acabei escrevendo em outros memorandos. Por exemplo, há uma pista aí sobre algum trauma ou experiências passadas envolvendo golpistas, charlatães ou crentes iludidos. Também há uma pista de que algo sobrenatural talvez tenha acontecido de fato em seu passado, pois só assim para alguém tão cética escolher um tema duvidoso como esse para ser a pesquisa da sua vida.
.jpg "Elvira Serranegra a famosa investigadora paranormal")
O fato é que nem sempre temos todas as informações para colocar em uma ficha de personagem assim que começamos a criar uma história. Ao menos, o mais comum é que não tenhamos todas essas informações. Porém, nem todas essas informações precisam constar na ficha desde o início, excetuando as informações básicas. No meu processo de escrita, eu vou desenterrando a história aos poucos, descobrindo do que ela se trata (como diria Stephen King em seu livro "Sobre a Escrita"). Neste caso, as vezes uma história que começou como um argumento X, acaba por se mostrar algo mais próximo de B, C ou L.
Esse conto em questão é um exemplo disso: o argumento inicial falava sobre uma casa assombrada com portais mágicos e o protagonista era um homem (definido para ser um jornalista ou blogueiro). Porém, conforme fui escrevendo e reescrevendo o argumento, descobri que na verdade aquela história era sobre outra coisa e o protagonista era um tanto diferente do que eu havia imaginado a principio. Como e porque isso acontece é um mistério para mim. Mas sei que é assim, kkkk.
Então, a minha "ficha" de personagem inicial foi mudando conforme a história foi amadurecendo na minha cabeça (e nas várias e várias páginas escritas e reescritas no computador). Isso não quer dizer de forma alguma que a ficha é inútil. Alguns dos traços de personalidade e ocupação do protagonista estavam lá desde o início e continuam lá: cético, aventureiro, blogueiro e gosta de viajar. No caso, só o que mudou sobre isso é o gênero: cética, aventureira, blogueira...
Isso mostra como a ficha de personagem (quer esteja em uma lista de tópicos, memorando ou qualquer que seja a forma de registrar seus dados) é uma bússola importante na escrita, permitindo conhecer seus personagens desde o início e ir conhecendo-os cada vez mais, ao acrescentar informações na ficha ou mesmo ao alterar informações pré-existentes (o que exige revisão e reescrita de todo o trabalho).
Seja como for, essa é uma importante ferramenta de escrita, tanto para escritores iniciantes como para experientes e agora vou dar alguns exemplos sobre ela em sua forma clássica.
A Importância das Fichas de Personagens para Escritores
A criação de fichas de personagens é uma ferramenta valiosa para escritores que desejam desenvolver personagens com mais profundidade e criar um documento de referência para o seu livro. Essas fichas ajudam a manter a coerência, evitar furos de roteiro e dar mais "personalidade" aos personagens. Vamos explorar como as fichas de personagens podem ser úteis e fornecer exemplos de fichas para diferentes gêneros literários.
Ficha de Personagem Básica
Aqui está um exemplo de ficha de personagem com perguntas essenciais para qualquer gênero literário:
Informações Básicas:
- Nome completo;
- Idade;
- Gênero;
- Aparência física (altura, peso, cor dos olhos, cor do cabelo, etc.);
- Ocupação.
História Pessoal:
- Onde nasceu e cresceu?
- Como foi sua infância?
- Quais são suas memórias mais marcantes?
- Tem algum trauma ou evento significativo no passado?
Personalidade:
- Quais são suas principais qualidades e defeitos?
- Como reage em situações de estresse?
- Quais são seus medos e inseguranças?
- O que o motiva e o que ele valoriza na vida?
Relações:
- Quem são seus amigos e inimigos?
- Tem algum interesse romântico?
- Como se relaciona com a família?
- Tem algum mentor ou figura de autoridade importante em sua vida?
Habilidades e Conhecimentos:
- Quais são suas habilidades e talentos?
- Tem algum conhecimento ou treinamento especial?
- Quais são seus hobbies e interesses?
Objetivos e Conflitos:
- Quais são seus objetivos a curto e longo prazo?
- Quais são os principais conflitos internos e externos que enfrenta?
- O que está disposto a fazer para alcançar seus objetivos?
Outros Detalhes:
- Tem algum hábito ou mania peculiar?
- Como é sua rotina diária?
- Tem algum segredo que guarda a sete chaves?
Ficha de Personagem para Fantasia
Para o gênero de fantasia, algumas perguntas adicionais podem ser relevantes:
Informações Básicas:
- Raça (elfo, anão, humano, etc.);
- Poderes ou habilidades mágicas;
- Equipamentos ou armas especiais.
História Pessoal:
- Qual é a origem de seus poderes ou habilidades?
- Tem alguma profecia ou destino ligado a ele?
Relações:
- Tem algum familiar ou ancestral famoso?
- Faz parte de alguma ordem ou guilda?
Ficha de Personagem para Terror
Para o gênero de terror, algumas perguntas adicionais podem ser relevantes:
História Pessoal:
- Tem algum trauma relacionado ao sobrenatural?
- Já teve alguma experiência paranormal?
Personalidade:
- Como lida com o medo?
- Tem alguma fobia específica?
Relações:
- Tem algum vínculo com o antagonista ou entidade sobrenatural?
Personalizando a Ficha de Personagem
A personalização da ficha de personagem com base no gênero e no roteiro é crucial para criar personagens coerentes e envolventes. Por exemplo, em "Harry Potter", perguntas sobre a casa de Hogwarts e a relação com a magia são essenciais, enquanto em "O Senhor dos Anéis", perguntas sobre a linhagem e a missão do personagem são mais relevantes.
Exemplo para Harry Potter:
- Em qual casa de Hogwarts foi selecionado?
- Qual é sua relação com a magia e com os outros bruxos?
Exemplo para O Senhor dos Anéis:
- Qual é a sua linhagem e origem?
- Qual é a sua missão ou propósito na jornada?
Conclusão
A criação de fichas de personagens não deve ser vista como uma regra rígida para escritores, mas uma dica para facilitar a escrita. Cada escritor tem um processo criativo próprio e deve usar as fichas de personagens se sentir que elas são úteis. Alguns escritores não precisam usar fichas e outros não as usam sempre. Eu mesmo não uso sempre, mas sempre que uso, lembro como elas são úteis para guiar meu processo de construção de personagens e na evolução da própria história. Além do mais, como eu expliquei na introdução desse texto, mesmo quando eu não uso a "ficha" do jeito clássico, creio que acabo criando na minha cabeça uma lista de características do personagem, até que sinto necessidade de escrever isso de alguma forma; geralmente um resumo sobre o personagem que acaba me servindo como um norte para escrever sobre ele. Porém, no final das contas, essa é apenas outra maneira de formatar uma ficha de personagem. Ainda assim, a forma clássica de dividr as informações do personagem em tópicos é bastante atraente, por ser simples e ao mesmo tempo poderosa, uma vez que ela permite construir e fornecer informações valiosas para qualquer escritor; principalmente aqueles que possuem muitos personagens em suas histórias.
