O que é Espada e Feitiçaria?

 Arte de espada e feitiçaria: guerreiro bárbaro luta contra fera horrenda de olhos vermelhos para proteger sacerdotisa zamoriana em ilha tropical. Noite estrelada, ruínas de templo primitivo com altar sacrificial. Estilo de arte inspirado em Conan, Elric, Manara, com cenários selvagens, cenas brutais, aventura e perigo.

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Líder de tribo:

“Vecemos de novo. Isso é bom! O que é melhor na vida?”

Filho do Líder:

“A planície aberta, um cavalo veloz, falcões em seu punho e o vento em seus cabelos...”

Líder de tribo:

“Errado! Conan, o que é melhor na vida?”

Conan:

“Esmagar os seus inimigos, vê-los fugir para sempre, e ouvir o lamento de suas mulheres!”

Líder de tribo:

“Isso é bom! Isso é bom!”

Se você reconheceu o diálogo acima, é bem provável que você já tenha se aventurado pelas terras da Espada e Feitiçaria, ou Sword and Sorcery, no original em inglês.

Acredito que esse seja um dos gêneros literários mais populares do último século, tendo extrapolado as páginas das revistas populares e de baixo valor em que nasceu para influenciar desde as revistas em quadrinhos até as telas da TV e do cinema, sem falar em brinquedos e jogos eletrônicos. 

Eu não soube disso por muito e muito tempo, mas a espada e feitiçaria foi um dos primeiros gêneros literários ao qual eu fui apresentado na minha infância: não através de livros diretamente, mas pela televisão, mas só soube disso depois de adulto, quando já tinha discernimento para saber que há uma diferença fundamental que separa obras de fantasia que, apesar de muito parecidas, como O Senhor dos Aneis e o Hobbit, possuem diferenças fundamentais em sua estrutura.

Essa diferença não existia para mim quando eu tinha 5 ou 6 anos; na verdade, com essa idade nós não costumamos estar interessados em rótulos e descrições técnicas para taxar as coisas das quais gostamos ou desgostamos.

Na verdade, com essa idade, eu apenas queria ter uma espada na mão e talvez rachar alguns crânios com ela e poder me aventurar em mundos fantásticos como os que eu via em desenhos como He-Man e ThunderCats.

Arte de espada e feitiçaria: guerreiro bárbaro luta contra fera horrenda de olhos vermelhos para proteger sacerdotisa zamoriana em ilha tropical. Noite estrelada, ruínas de templo primitivo com altar sacrificial. Estilo de arte inspirado em Conan, Elric, Manara, com cenários selvagens, cenas brutais, aventura e perigo.

O que eu descobri depois de adulto é que essas duas obras: ThunderCats e He-man e que eram tão emocionantes para as crianças da década de 80, tinham os mesmos elementos que obras parecidas destinadas para um público um pouco mais velho, como o filme de Conan o Bárbaro de 1982 ou seus contos sombrios escritos por seu criador Robert E. Howard, no início daquele século. Bom, acontece que He-man e ThunderCats têm muito em comum com Conan: eles se inspiraram e até copiaram muitos dos elementos da obra de Howard. Eu descobri isso quando fui apresentado ao conceito de "Espada e Feitiçaria" e comecei a ler e estudar o que significava esse gênero fantástico. Foi quando mergulhei nos contos de Conan e outros personagens de Howard como Solomon Kane e Rei Kull e descobri outros personagens de outros autores que também escreviam Espada e Feitiçaria, como por exemplo Elric de Melniboné.

Eu sempre vi a Espada e Feitiçaria, desde que tomei conhecimento sobre sua existência, como um subgênero dentro de Fantasia Sombria, que por sua vez faz parte da Fantasia.

Mas, apesar da forma particular como eu vejo essa coisa toda, não é bem assim que o gênero é definido pelos estudiosos do assunto. E é sobre isso que eu vim falar aqui hoje:

O que exatamente define esse subgênero da fantasia que nos transporta para um mundo de bárbaros, feitiços e monstros? Como e quando surgiu esse subgênero da literatura?

Para descobrir isso e muito mais, afie sua espada e me siga por essa jornada perigosa pelos recantos da Sword and Sorcery.

Definição de Espada e Feitiçaria

A Espada e Feitiçaria é um subgênero da fantasia que se caracteriza por apresentar histórias focadas em heróis que, à margem da sociedade ou como forasteiros, resolvem seus problemas através de sua força, vontade e habilidade com a espada, muitas vezes contra forças sobrenaturais e malignas. As motivações desses personagens são pessoais, como vingança, sobrevivência ou busca por poder.

Diferente da alta fantasia, onde o foco são os grandes conflitos que ameaçam o mundo, na Espada e Feitiçaria, os perigos são mais imediatos e as motivações mais individuais. Não espere encontrar heróis com armaduras reluzentes, montados em belos cavalos, salvando o mundo; aqui, os heróis são frutos do acaso e a ação é a palavra-chave. A violência é um recurso presente, mas não é o único meio de resolução de conflitos. Dois exemplos disso são Conan; um bárbaro que frequentemente usa a força e a astúcia para sobreviver aos inimigos mais terríveis e Elric de Melniboné; que sendo fraco e doente, recorre à magia e poções para superar seus desafios.

Conan, o Bárbaro, em uma cena de batalha épica, brandindo sua espada e lutando contra hordas de inimigos em uma ilustração de Frank Frazetta.

A História do Gênero

As raízes da Espada e Feitiçaria remontam a contos antigos, como a mitologia e os épicos clássicos, incluindo obras como a Odisseia de Homero, as sagas nórdicas e as lendas arturianas. No entanto, o gênero como o conhecemos hoje surgiu nas revistas pulp do início do século XX, especialmente na Weird Tales.

Robert E. Howard é amplamente considerado o pai do gênero, com seu personagem icônico, Conan, o Bárbaro. Em 1932, Howard criou Conan, que se tornaria um dos maiores personagens da cultura pop. A história de Conan foi publicada em revistas pulp, que eram consideradas literatura descartável na época. Apesar de ser considerado um escritor de segunda categoria por alguns, Howard criou personagens como Solomon Kane, Kull e Red Sonja.

O termo "Espada e Feitiçaria" foi cunhado em 1961 por Fritz Leiber, em resposta a uma carta de Michael Moorcock no fanzine Amra. Moorcock buscava um nome para definir o tipo de fantasia de Howard, que ia além da fantasia épica. Leiber propôs o termo por conta dos elementos sobrenaturais associados às histórias de Howard.

A Espada e Feitiçaria Além dos Livros

O gênero se expandiu para diversas outras mídias:

  • Quadrinhos: A adaptação de Conan para os quadrinhos pela Marvel Comics nos anos 70, com o trabalho de Roy Thomas, foi fundamental para popularizar o personagem. As revistas Conan the Barbarian e Savage Sword of Conan foram importantes para o gênero, sendo que a segunda tinha um formato magazine, mais voltado para o público adulto. As adaptações de quadrinhos de Elric de Melniboné também são notórias.
  • Cinema: O filme Conan, o Bárbaro (1982), estrelado por Arnold Schwarzenegger, popularizou o gênero no cinema, gerando uma "Conan Mania". Outros filmes e séries de TV também se inspiraram no gênero.
  • TV: Houve diversas séries de TV e animações inspiradas na espada e feitiçaria, como também a série animada de Conan.
  • Jogos de Videogame: A temática de espada e feitiçaria está presente em diversos jogos de videogame, com combates, feitiços e monstros. Jogos como Age of Conan e Conan Exiles são exemplos notórios.
  • RPG: O gênero moldou diversos aspectos do RPG de fantasia original. Sistemas de RPG como Dungeon Crawl Classics e Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros bebem diretamente da fonte da espada e feitiçaria.

Autores e Obras Marcantes

Além de Robert E. Howard, outros autores se destacam no gênero:

  • Fritz Leiber: Criador da dupla Fafhrd e Gray Mouser, personagens que fogem do estereótipo do herói clássico, sendo um bárbaro e um ladrão, respectivamente.
  • Michael Moorcock: Autor da saga de Elric de Melniboné, um anti-herói albino, fraco e doente que precisa usar de magia para ter forças.
  • Poul Anderson: Autor de The Broken Sword, obra que revisita mitos nórdicos com aventura e elementos de espada e feitiçaria.
  • Glen Cook: Conhecido por suas revoluções no gênero, com a série A Companhia Negra, consolidando o que chamamos de dark fantasy.

A Espada e Feitiçaria nos Dias de Hoje

A espada e feitiçaria continua relevante e influente na cultura pop atual. Autores como George R.R. Martin, de As Crônicas de Gelo e Fogo, bebem da fonte da espada e feitiçaria. O gênero também está presente em diversas adaptações para outras mídias, como séries de TV e jogos de videogame.

As obras originais de autores como Howard, Leiber e Moorcock continuam a ser publicadas e apreciadas por novos leitores, garantindo a longevidade do gênero. A espada e feitiçaria é um gênero que nunca sai de moda, pois explora temas atemporais como o poder, a ambição, a sobrevivência e a busca pela identidade.

Se você busca aventura, ação, magia e personagens memoráveis, a espada e feitiçaria é o gênero certo para você. Que tal começar sua jornada agora?

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