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A lenda do Mapinguari: o monstro que assombra a Amazônia
A escrita do meu próximo conto me levou a retomar as minhas pesquisas sobre a mitologia brasileira, entre outras coisas. Desse modo, acabei me deparando com o Mapinguari devido a um cruzamento de informações (eu precisava de uma lenda e quando encontrei a lenda que se encaixava; a do Jurupari, este me levou também ao Mapinguari). Eu já havia lido alguma coisa sobre este ser incrível e sobre algumas suspeitas sobre a origem dessa lenda que recaem sobre criaturas da megafauna (que é outro assunto do meu interesse).
E você? Já ouviu falar do Mapinguari? Se você é fã de istórias de terror ou folclore indígena, provavelmente já se deparou com esse nome em algum livro ou na internet. Mas você sabe de onde vem essa lenda e o que ela significa para os povos indígenas que vivem na Amazônia? Neste post, vou explorar a origem, as características e as curiosidades que descobri sobre esse monstro que assombra a Amazônia, em minhas pesquisas em artigos, vídeos e blogs especializados no assunto.
O que é o Mapinguari?
O Mapinguari é um criptídeo. Esse termo é usado pela criptozoologia para se referir a uma criatura cuja existência é sugerida por relatos ou outras evidências que, contudo, não provam a sua existência, por falta de rigor ciêntífico ou mesmo registro confiáveis. Outros exemplos de criptídeos famosos são o Pé Grande e o Monstro do Lago Ness.
Neste caso podemos dizer também que o Mapinguari é uma criatura lendária. Esse monstro é descrito como tendo um formato semelhante ao de um grande primata de pelôs longos e avermelhados e que vive na floresta amazônica do Brasil e Bolívia. Seu nome vem do tupi antigo Îurupari, que significa "boca torta". Segundo algumas versões da lenda, o Mapinguari tem apenas um olho grande no centro da cabeça como um ciclope e em outras versões a quantidade de olhos que le possui varia de indivíduo para indivíduo. Na área da barriga possui uma boca enorme com dentes compridos e afiados, braços longos e garras grandes nas mãos como as de uma preguiça gigante. Em outros relatos, esse monstro é realmente coberto de pelos, porém usa uma armadura feita do casco de tartarugas, ou tem a pele igual ao couro de um jacaré. Há também quem diga que seus pés têm o formato de uma mão de pilão.
Seu comportamente quase sempre é descrito como selvagem e voraz, sendo uma criatura que mata qualquer animal ou humano que cruzar seu caminho. Ele costuma emiter gritos altos e consistentes, corre pelas matas quebrando galhos, derrubando árvores e deixando um rastro de destruição em seu caminho. Algumas versões da lenda ainda dizem que ele é capaz de dilatar o aço quando sopra no cano da espingarda, tornando-se imune aos tiros dos caçadores. Por mais estranho que seja, há quem diga que ele só foge quando vê um bicho-preguiça, ou quando escuta o som do chocalho feito com as unhas dos tamanduás.
Qual é a origem do Mapinguari?
A origem do Mapinguari é incerta e varia de acordo com a fonte consultada. Alguns estudiosos sugerem que a lenda pode ter surgido de tribos indígenas que vivem na Amazônia, onde algumas acreditam que determinados índios ao atingirem uma certa idade, se transformam neste monstro e passam a viver isoladamente na mata.
Outros pesquisadores especulam que o Mapinguari poderia ser uma preguiça-gigante (mamífero do período pré-histórico — de mais de 12 mil anos), que teria sobrevivido até os dias atuais em áreas remotas da floresta. Essa hipótese foi defendida pelo paleontólogo argentino Florentino Ameghino no final do século XIX, e pelo ornitólogo David Oren no final do século XX, que chegou a realizar algumas expedições na Amazônia em busca do famoso Mapinguari. Mas, segundo o que li no Blog O Colecionador de Sasis, um importante blog relacionado a mitos e lendas brasileiros, é preciso ter cautela com essa teoria, pois os relatos sobre o Mapinguari são relativamente recentes, pois não há registros desse mito antes do século XIX ou XX e, sendo assim, talvez a versão que conhecemos desse criptídeo seja resultado de um cruzamento cultural em que lendas vindas de outras partes do mundo se misturaram às lendas locais.
Há também quem relacione o Mapinguari com outras lendas da mitologia indígena, como a do Jurupari (o demônio dos sonhos) ou a do Acutipupu (o gigante devorador de gente). Além disso, existem diversas versões regionais da lenda, que acrescentam ou modificam alguns detalhes sobre a aparência e o comportamento do monstro.
Como é a visão da tribo Mawé sobre o Mapinguari?
Eu descobri sobre o povo Mawé por acaso, em um artigo da Wikipédia sobre outra lenda, a do Juruparí. Os poucos paragrados que este artigo dedicam à visão dos Mawés sobre o Juruparí e o Mapinguari me interessaram muito, pois como escritor eu buscava lendas que pudesse explorar para compor um dos núcleos de um livro que estou escrevendo e que é inspirado em mitos das tribos brasileiras (entre outras coisas). Como a maioria das lendas que estou estudando para essa história são ligados ao tronco Tupi-Guarani, não é de estranhar que eu tenho tropeçado nos Mawé e agradeço muito por esse tropeção.
Os Mawé são uma tribo indígena da Amazônia, também conhecida por Sateré-Mawé, que fala a língua sateré-mawé, integrante única da família linguística de mesmo nome, pertencente ao tronco tupi. Eles são conhecidos por cultivarem o guaraná, o fruto amazônico nativo desse território, que é tão importante para eles que aparece no mito fundador deste povo.
Para os Mawé, o Mapinguari é um dos demônios criados pelo Jurupari, o mal supremo e também o Demônio dos Sonhos, que deu origem a outros seres malignos, como os Ahiag̃ (uma versão maligna do Anhangá) e os Mapinguary. O Jurupari é um personagem mitológico que aparece tanto como um legislador como um demônio. Ele é o responsável por trazer as leis e os costumes para os homens, mas também por provocar pesadelos e impedir que suas vítimas gritem por socorro. Eu também tenho um post muito legal aqui no Blog sobre o Jurupari e você pode ler mais sobre ele se tiver interesse clicando nesse link.
O Mapinguari, segundo os Mawé, é um ser que vive nas profundezas da floresta, e que se alimenta de carne humana. Ele tem forma humanóide como um primata alto e forte (inclusive, muito semelhante às descrição do Pé Grande), com pelos vermelhos e um olho só. Ele tem uma boca enorme na barriga, que usa para devorar suas presas. Ele também tem garras afiadas e uma cauda longa e peluda. Ele é muito rápido e silencioso, e pode se esconder facilmente entre as árvores.
Os Mawé temem o Mapinguari e evitam encontrá-lo a todo custo (quem não evitaria?). Eles acreditam que ele pode sentir o cheiro do sangue e da carne dos humanos, e que ele ataca principalmente os caçadores que se aventuram pela mata. Eles dizem que o único jeito de escapar do Mapinguari é cortando sua cauda, pois assim ele perde sua força e sua velocidade. Eles também usam amuletos feitos com dentes ou unhas de animais para se protegerem do mal. Acredito, por tudo o que eu li, que andar por aí com um bicho-preguiça no colo também deva ajudar (estou brincando: deixem os bicho-preguiça em paz, eles merecem).
Conclusão
O Mapinguari é uma lenda fascinante e tenho certeza de que eu vou poder usá-la para criar cenas assustadoras. Acredito que esse monstro revela muito sobre a cultura e a imaginação dos povos indígenas da Amazônia, inclusive a diversidade de visões sobre ele reflete a diversidade cultural do Brasil (uma região tão grande e que já era um caldeirão cultural muito antes da invasão européia). O Mapinguari é um exemplo de como a natureza pode inspirar histórias fantásticas e sombrias, que mexem com o nosso medo e a nossa curiosidade. Ele também é um símbolo da resistência e da diversidade dos povos originais do território brasileiro, que mantêm vivas as suas tradições e os seus saberes.
Meu objetivo com essa pesquisa é aprender mais sobre os mitos dos povos originais e também sobre as versões desses mitos resultantes do cruzmanto cultura inevitável com os mitos dos povos de outras partes do mundo. Claro, eu pretendo usar os mitos mais sombrios e por isso escolho as versões mais assustadoras e tenebrosas dessas lendas para inspirar os meus contos.Já o meu interesse particular nessa pesquisa sobre o Mapinguari é conseguir material para o conto que estou escrevendo… Na verdade, reescrevendo. Estou dando vida nova para o conto A Rua dos Anhangás, que é levemente inspirado na mitologia tupi-guarani. Bom, ele continuará sendo levemente inspirado na mitologia dos povos indígenas, porém creio que os elementos presentes serão muito mais ricos nesta nova versão. A trama está se tornando mais densa e a coisa toda está assumindo formas que eu não previa… Do jeito que eu gosto.Este conto vai se chamar (provavelmente) Vila Santa Morte: Vias Sombrias e ele é uma fantasia sombria e urbana, que mistura elementos míticos das culturas indígenas brasileira com lendas urbanas e uma boa dose de violência e horror. Claro que não poderia faltar um elemento que eu adoro colocar em meus textos: mistério.
Espero que você tenha gostado deste post sobre o Mapinguari, e que ele te ajude a criar um conto de terror incrível sobre essa criatura. Se você quiser saber mais sobre o Mapinguari e outras lendas da Amazônia, eu recomendo que você visite os seguintes sites:
- Blog O Colecionador de Sacis: onde você pode ler o post Monstrum – Mapinguari é a Preguiça Gigante?
- Povos Indígenas no Brasil: Um site que reúne informações sobre as diferentes etnias indígenas do Brasil, onde você pode ler o artigo sobre os Sateré-Mawé.
- InfoEscola: Um site educativo que traz artigos sobre diversos temas, onde você pode ler o artigo sobre o Mapinguari.
- Wikipédia: A enciclopédia livre, onde você pode ler o artigo sobre o Mapinguari, o Jurupari e outras lendas indígenas.
Obrigado pela sua atenção e nos vemos na próxima lenda!
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